quinta-feira, 26 de abril de 2007

Quanto Ouso - Capítulo Dezassete 2

A personalidade dominante era Tom Bullock, o Chefe – exuberante, egocêntrico, convencido, intolerante, bem-disposto, pouco interessado nos outros. À primeira vista, a sua jovialidade encantava, até se tornar notório que o seu interesse pelo nosso bem-estar se devia mais ao seu desejo de impressionar do que à sua curiosidade por nós. Ele provocava admiração com a sua democracia ostensiva. Odiava a subserviência e estava ansioso por mostrar aos outros que não a pedia a ninguém. Esperava dos que conhecia uma relação amigável e informal, e fazia-o saber desde logo. Mas rapidamente se queixava da informalidade que pedia. A sua fome de afeição imediata deixava-o exposto àquela alegria espalhafatosa e insensível que rapidamente degenera em abuso. Nunca aprendeu a lição do desprezo que ensombra a familiaridade: e sofria com isso.
Mas ele saltava, como um rapazinho, cheio de partidas e brincadeiras, que adorava que nós apreciássemos. Fosse como fosse, ele era divertido. E agitado. Em permanente movimento, um pequeno sapateado aqui, outro ali, um rápido passar de um braço pela cintura de uma das empregadas para um abraço, um beliscão num rabo, o tipo de acções que provocam franzires de sobrancelhas nestes tempos confusos quanto a decidir o que é divertimento e alegria e o que é lascívia condenável. Na maior parte dos locais de trabalho as duas coisas andam juntas, mas naquele tempo, a maior parte de nós sabia a diferença. Os homens comunicavam e as mulheres sabiam quando o toque era inocente, se era seguro e o afecto – e até mesmo um curioso respeito – residia na forma. Tom era, com toda a certeza, delicado se bem que espalhafatoso – não tinha nada de grosseiro ou brutal. Excepto com a mulher.
Nunca ficava de fora de uma conversa, tinha um tom assertivo e doutoral e irritava toda a gente com factos incontroversos – que ninguém tivesse dúvidas! – conhecia sempre alguém que era alguém, os que estavam no topo da sua profissão, da sua esfera de actividade. Nunca conhecia segundos classificados, só os vencedores em cada área. Richard Trauber era o melhor tenor que alguma vez existiu ou existirá – Tom nunca tinha ouvido falar de Jussi Björling, mas não interessava: “Não quero saber do que dizes, é o melhor que já existiu ou existirá.” O seu anterior patrão foi, a certa altura, o ciclista mais rápido do mundo. Os filmes americanos eram os melhores alguma vez feitos e não dava um tostão por nenhum filme que os ingleses, franceses, ou alemães ou russos fizessem. “E eu sou representativo do homem da rua,” era o seu grande argumento à mesa, em volta da qual todos nos sentávamos na apinhada sala do pessoal, “ e é o homem da rua quem decide o que é bom e mau. É o dinheiro que ele paga que conta, não se pode discutir com o que entra na bilheteira”. A discussão era velha e interminável e irresolúvel. Vindos de Tom esses pontos de vista, como os de muita gente, eram proclamações insistentes de quem ele pensava que era, mais do que argumentos racionais e sólidos. Efémeros, também. Atirados ao ar e logo esquecidos.
Mas o homem não. O homem era cheio de cor e contradições, e era recordado, o que, penso, era o seu maior desejo. Por um lado, intolerante, por outro… justo. Uma criança foi assassinada na Escócia e o caso fez manchete dos jornais. Uma mulherzinha que fazia a entrega das mercearias entrou pela porta da cozinha, vinda da rua, carregada de queijos e de uma indignação virtuosa em relação ao trágico acontecimento. “Acho que,” começou, “ele devia ser pendurado numa árvore onde toda a gente pudesse chegar e fazê-lo em postas, pois acho! Não há nada que seja demais para gente assim!” Ao que Tom explodiu: “Você é tão má quanto o próprio assassino! É sádica, se diz isso.”
Equivalente ao absolutismo de Tom era o seu poder de exagero. Só conheci outra pessoa como ele, um piloto da Royal Air Force chamado Paddy que conhecia sempre alguém que tinha feito qualquer coisa mais do que nós, que conseguia comer, beber, fumar, fazer sexo o dobro de nós. Se não fosse ele, seria alguém que ele conhecia e tinha sempre uma testemunha para provar o facto. […] Assim era Tom. Mas por trás do tipo exuberante, estava o homem mal-casado e infeliz.
Mary – Bebedolas (porque é que ela permitiria que lhe chamassem isto?) - era uma mulher morena e engraçada com um ar de superioridade muito parecido com o das mulheres nas lojas de Paris cuja sobranceria tenta em vão transmitir a ideia de que foram feitas para algo melhor do que atender o cliente. A maior parte do pessoal não gostava dela e Jimmy – o lavador de pratos de quem Tom era amigo – contou-me que eles discutiam com ódio e crueldade, ao passo que Irene – uma empregada dos quartos – dizia que ela era uma cabra e que dava uma vida de cão ao Tom. O próprio Tom confessou que vivia a maior parte do tempo em casa da mãe, que vivia sozinha […] Mary vivia a maior parte do tempo sozinha. “É melhor assim,” dizia, ”evita os inevitáveis confrontos. Uma separação destas é o mesmo que uma feliz vida de casado!” Noutra ocasião afirmou: “As pessoas pensam que nós brigamos, a minha mulher e eu. Não brigamos. Não é que me importe com o que as pessoas dizem… nada me preocupa menos…” Claro que nada o preocupava mais. Era assim, o Tom. Cheio de pequenos dogmas, interesses pessoais a defender, contradições, inconsistências, um saco cheio de pequenas fraquezas humanas. No entanto era afável, o que nos fazia ignorar as suas estúpidas hipocrisias. Excepto uma.
Com frequência gritava “Justiça!” mas não defendia os nossos direitos. Porque ele tinha o hábito de fazer muitas horas extraordinárias e raramente pedia o dinheiro por isso, esperava, irrazoavelmente, que nós fizéssemos o mesmo. A cozinha era toda a vida de Tom. Nada mais prendia a sua atenção excepto, talvez, a mãe; para todos os outros, a cozinha não era toda a nossa vida. Ele podia ter feito qualquer coisa em relação ao pagamento das horas extraordinárias, mas não fez nada. Se bem que houvesse um lado positivo – ele não chateava. Nem perseguia. Só esperava dos empregados da sua cozinha o que eles conseguiam fazer ou o que era preciso fazer-se. Não havia o medo de ser repreendido por se deixar queimar os bolos, ou descascar nabos amarelos em vez de nabos roxos, ou usar as últimas peras numa salada de frutas quando elas faziam falta para a Belle-Hélène. Como resultado disto, não existindo qualquer atmosfera de medo, pouco corria mal. E quando corria, Tom mantinha-se calmo e eficiente. A cozinha funcionava sem problemas porque ele sabia o quer tinha de ser feito, por que ordem, e quanto tempo demorava cada acção. Era temperamental mas nunca entrava em pânico e só duas vezes o vi perder a cabeça, de fúria. A primeira foi quando um cliente pediu uma dose maior (ou terá sido um pedido para repetir?) e ele enfureceu-se. Tom era muito rigoroso com a ganância. A segunda vez foi quando um aprendiz fritou o peixe errado. Tom atirou com tudo para um canto da cozinha e irrompeu em palavrões. Mas não era um tirano e nunca puxava dos galões. […]
No centro deste espírito irrequieto e descontrolado estava o velho cancro: um complexo de inferioridade. Ele tinha consciência de que a inteligência podia medir-se e que o nível de inteligência por que ele tinha respeito estava fora do seu alcance. Com frequência, se debatia para tentar libertar-se e entrava em competição, odiando alguém que dissesse o que ele achava dever ter sido ele a dizer. Troçava: “Sim, sim, é isso, está certo, claro.” Na tranquilidade da reflexão penso nele com mais simpatia do que as minhas notas sugerem que eu sentia na altura. As suas explosões barulhentas e insistentes devem ter-me dado cabo dos nervos.
No entanto, apesar da galhofa, gostávamos um do outro, se bem que a violência nunca estivesse longe.
[…]
A última nota sobre Tom, envolve a sua personalidade num padrão familiar. Em simultâneo com a sua violência para com a esposa, tinha um quase patético amor pelos animais. Os Taylor tinham um pequeno terrier chamado Phoebus que passava a maior parte do tempo na nossa cozinha, juntamente com um gato preto, e Tom preocupava-se com eles da mesma maneira que as pessoas que não têm mais nada sobre que derramar a sua afeição. Interrompia a conversa mais importante para saudar o cão, sempre que ele entrava na cozinha, com o nariz no chão, a cauda a abanar num prazer Pavloviano, expectante e ansioso, indo direitinho a ele.
“Oh, cãozinho! Aqui está um bom cãozinho! Pois és! Um bom cãozinho! Que acham, ein? Oh, cãozinho, cãozinho.” A vaidade mais ardentemente sentida de Tom era que o cão vinha ter com ela antes de toda a gente. “Aquele cão gosta de mim, pois gosta.” E mergulhava nos rituais do cuidado excessivo com o animal enquanto a sua bonita e impassível mulher ficava ali de pé, com um sorriso distante, habituada a tudo aquilo e sabendo, sem dúvida, muito que nós não sabíamos.

Pp. 322-326

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Quanto Ouso - Capítulo Dezassete 1


Hotel Bell
Norwich
Norfolk
Sábado, 12 de Dez. 1953

Olá Pai Joe,
Sei que não escrevo especialmente para ti muitas vezes, mas como a mamã me disse que não estás tão bem quanto seria desejável, pensei que umas poucas linhas te iriam animar.
Não sei como, penso que gostarias do meu quarto. É uma mansarda que dá para o que deve ser a zona mais animada de Norwich, e hoje, sábado, olho para fora da minha janela e vejo multidões de pessoas e carros nas ruas. As compras de Natal! Milhares de pessoas a gastarem o que devem ser milhões de libras.
[…]
Ias gostar dele. O quarto é pequeno mas tem um formato estranho e deve ter umas centenas de anos. O próprio Bell deve ser um dos mais antigos hotéis da cidade. Norwich, como te recordarás por causa daquele passeio que fizeste há algum tempo, tem certamente uns bons mil anos. O castelo é normando. Existe, é claro, o inevitável hotel onde a Raínha Bess [Isabel I] pernoitou. Julgo que todas as cidades antigas de Inglaterra afirmam que a boa Rainha lá passou algum tempo, numa altura ou noutra.
[…]
Talvez o mau maior prazer aqui, e seria também o teu, seja andar pelas livrarias. Há muitas e consegue comprar-se os clássicos por muito pouco dinheiro.
[…] Aqui tenho muito tempo para ler. Posso ir para cama por volta das 10 da noite e ler até à meia-noite.
[…] Hoje, por exemplo, vou ver os Norwich Players […] e a sua versão dos Espectros, de Ibsen. E, para a semana, é o jantar anual do grupo de cinema que custa dez xelins. Estou prestes a considerar se vou ou não. É muito caro e com as dívidas que tenho de pagar, o meu dinheiro não dá para muito. Verei…

O gerente chamava-se Sr. Taylor, um homem paternal e distraído. Quando me entrevistou para a posição de ajudante de cozinha, a mais humilde das humildes ocupações da cozinha, a minha atitude baralhou-o. Quem seria este jovem que estava à sua frente a falar com uma voz “educada”, firme e confiante e que desejava um trabalho tão modesto?
[…]
A sra. Taylor referia-se ao marido como “Papá”, presumo que mantendo a forma como falava com as suas duas filhas. O sr. e a sra. Taylor eram conhecidos pelo pessoal do hotel como “Mamã e Papá”. Por regra, o sr. Taylor usava calças de flanela cinzentas com um blazer azul e botões dourados – um fato que, em palco, teria leitura imediata – e, de vez em quando, usava um fato de golfe castanho. O seu fato “melhor” era cinzento. De altura mediana, cabelo cinzento, nunca parecia ter a certeza do que se estava a passar, esperando que toda a gente soubesse e ele pudesse confiar em todos.
[…] Naquele ano, os Taylor terminavam o contrato e deram-nos a escolher entre 3,6 dinheiros por uma caixa de Natal, ou podíamos dar-lhes 1 penny para pagar a diferença de um maço de cigarros que custava 3,7 dinheiros! Nem houve qualquer gesto de reconhecimento por todo o tempo a mais que todos tínhamos trabalhado. As minhas notas dizem-me:

"A noite passada deram uma festa para a R [Rosemary, uma das filhas]. O chefe passou a noite toda a fazer empadas, doces e outras coisas. Calculo que as coisas tenham vindo dos abastecimentos normais, e não dos bolsos deles. Nada de gratificação para o chefe, como se o trabalho dele fosse um dado adquirido… pouca classe, gente pequena. Chamavam-nos pelo primeiro nome, até eram amigáveis no trato. Mas é o tom condescendente… não tenho a mínima dúvida de que, mais tarde ou mais cedo. Acabarei por discutir com a madame."

No entanto, a mesquinhez não era opressiva. O meu quarto na mansarda era o meu castelo, inviolado. Respeitavam a nossa privacidade.

Tom, o Chefe

A grande cozinha estava situada dois metros abaixo do chão. Os fornecedores vinham da rua e desciam as escadas para fazer as suas entregas. O Chefe era Tom Bullock, e a mulher dele, Mary, de alcunha “Bebedolas”, tratava das contas. Brigavam um com o outro e ele passava a maior parte do tempo em casa da mãe – da casa dele, pouco tempo depois.
Tom rapidamente percebeu que eu tinha potencial para mais do que apenas ser ajudante de cozinha e ensinou-me os rudimentos da culinária – manteiga clarificada para molhos, massa para empadas e tartes doces e salgadas, tarefas fáceis. As suas capacidades não atingiam a haute cuisine se bem que, de vez em quando, em casos especiais, ele alcançasse alturas acima do normal, segundo a bitola do caixeiro-viajante: poulet au riz [arroz de frango], por exemplo, ou um trifle [1] mais do que básico. As ementas normas incluíam rosbife e Yorkshire pudding [2], costeletas grelhadas, perna de borrego assada, lombo de porco assado, tartes de maçã, pudins de pão, ameixas e custarda. E assim, os meus dias na cozinha eram variados – não só lavava as bancadas e limpava o chão de ladrilho, não só descascava ervilhas e batatas, como também batia as claras para fazer merengue, amassava a massa para as empadas de vaca e rins, fazia molhos com caldo, mexia e passava a custarda até ficar macia. Mais tarde, quando Edie, a cozinheira dos pequenos-almoços foi de férias, confiaram-me a tarefa de os fazer, na copa do andar superior, que estava de frente para as portas da sala de jantar.
E tinha ajuda. Durante os cerca de catorze meses que trabalhei no Bell, trabalharam ao meu lado, por várias vezes, duas personalidades cheias de vida: Gordon e Harry. Já não me lembro qual deles foi o primeiro, o Gordon, acho; eram segundos-ajudantes, sendo eu primeiro, se bem que nunca essa divisão fosse invocada; a longevidade ditava a hierarquia. Harry era um malandro encantador em quem não se podia confiar para nada. Os seus salários desapareciam em vinte e quatro horas. Durante o resto da semana andava no cravanço. Gordon, de cabelo escuro, baixinho, cheio de vivacidade, em algumas manhãs muito trémulo, dobrado sobre o lava-louças enquanto descascava as batatas, muitas vezes ainda com maquilhagem esborratada na cara, era gay, e ganhava um dinheiro extra como travesti, cantando libidinosamente num bar perto da estação de Norwich chamado Blue Room. Tinha um talento modesto mas a sua tendência para “trabalho duro” mantinha-lhe os pés na terra, numa vida confusa; e se bem que a sua dureza fosse do tipo de esquina, era apenas mais uma vítima da vida, ansiando por amor e derramando gentileza indiscriminada sobre todos aqueles que, depois, abusavam dele. De Gordon e Harry falarei mais tarde.

[1] Tipo de sobremesa, muito popular em Inglaterra, à base de palitos la Reine ou bolo seco, compotas várias, licor e molho de custarda.
[2] Uma espécie de morcela salgada.
Pp. 319 - 322

Do Realismo ao Naturalismo...

As características gerais do Realismo são: a análise e síntese da realidade com objectividade, em oposição à subjectividade romântica; exactidão, veracidade e abundância de pormenores, com o retrato fidelíssimo da natureza; total indiferença perante o "Eu" subjectivo e pensante perante a natureza (o "Eu" romântico); neutralidade de coração perante o bem e o mal, o feio e o bonito, vício e virtude; análise corajosa de vícios e podridão da sociedade; relacionamento lógico entre as causas desse comportamento (biológicas ou sociais, e a natureza interior e exterior da personagem); admissão de temas cosmopolitas na literatura; uso de expressões simples e sem convencionalismos (por oposição ao tom declamatório romântico).
O Naturalismo difere do Realismo, mas não é independente dele. Ambos crêem que a arte é a representação mimética e objectiva da realidade exterior. Foi a partir desta tendência geral para o Realismo mimético que o Naturalismo surgiu, sendo por isso muitas vezes encarado como uma intensificação do Realismo. As características principais são: tentativa de aplicar à literatura as descobertas e métodos da ciência do séc. XIX (filosofia, sociologia, fisiologia, psicopatologia, etc), tentando explicar as emoções através da sua manifestação física (apresenta, assim, mais razões científicas do que o simples descrever dos factos do Realismo); resultou muitas vezes na escolha de assuntos mais chocantes (alcoolismo, jogo, adultério, opressão social, doenças, as suas causas e consequências), vocabulário mais terra-a-terra, motes mais cativantes ou detalhes mais fotográficos.
O Naturalismo acabou por se tornar uma doutrina (instituiu que o indivíduo era primária e fundamentalmente modelado pela hereditariedade, meio e educação - pela "natureza"), com uma certa visão muito específica (Eça de Queirós chamou-lhe a "forma científica que a arte assume") do Homem e do seu comportamento, tornando-se mais concreto mas também mais limitado que o Realismo, embora que, como os olhos do observador/escritor não são lentes inanimadas, a reprodução da realidade em cada uma das obras Naturalistas, pode reconhecer-se como sendo individual, e os Naturalistas acabam por afastar-se da própria teoria.

http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/j_g_ferreira/realismo.html, 25/04/2007

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Atenção! Aviso à navegação!

Depois de muitos de vocês não terem cumprido o prazo desta semana, a Bruxa, bruxa que é, quer ver as correcções da biografia, o mais rapidamente possível. Por isso, quem ainda não me mandou a biografia corrigida e acrescentada, se faz favor, tem essa gentileza até terça-feira, dia 24 de Abril, véspera de feriado...
A Bruxa quer as duas partes da bibografia: a que fizeram a partir da página do senhor e a que fizeram a partir d'A Despensa... Tudo corrigido, arrumado e com as alterações feitas numa cor diferente do preto.

terça-feira, 17 de abril de 2007

E pronto!

E pronto! Ao fim de algum tempo e muitos textos (cinquenta e um, para ser mais precisa) e imagens mais tarde, a Bruxa dá por terminada a secção de Tapas e Petiscos aqui da Despensa, agradecendo o valioso contributo do colega Desgraça em alguns campos mais específicos do saber.
A menos que algum aprendiz tenha alguma dúvida ou não conheça qualquer outra coisa que venha referida n' A Cozinha, e por isso seja necessário acrescentar mais qualquer coisa, esta parte do trabalho está concluída e pronta para ser utilizada em Dramaturgia, História do Teatro, Monografia e afins...
Bom trabalho!

E para acabar...



Página 86 - "Os outros cozinheiros correm a tentar detê-lo. Ele liberta-se e deita a mão a um grande cutelo."Um cutelo é um tipo de faca utilizada por talhantes e açougueiros no desmancho das carcaças e corte de peças mais pesadas e ossos. Muito afiado e bastante mais pesado do que as outras facas, pode transformar-se numa arma temível.


Pode ainda ter duas pegas e ser utilizado para picar carne ou, em versão pequena, ervas e legumes.




E já há designers a trabalhar no assunto...

Fungos canídeos...


Página 84 - "MAX – Oh, eu sei disso, podes crer. Há só uma droga que é eficaz pela boca. [Em segredo] E sabes o que é? Dente-de-cão! Já ouviste falar? É a única coisa a fazer. E é rara."


Dente-de-cão é o nome popular do fundo conhecido por cravagem do centeio. O esporão do centeio (Claviceps purpurea) é um fungo parasita que ataca o centeio, e do qual se extraem vários alcalóides e substâncias de uso medicinal. Conhecido desde a Idade Média, foi causador de várias doenças, uma vez que as pessoas comiam pão de centeio infectado com o fungo. No entanto, cedo se percebeu que dele se podiam extrair substâncias com valor medicinal. Utilizado para diminuir dores, percebeu-se que era um vaso-constritor, o que o tornava útil no tratamento de hemorragias. Da mesma forma se descobriu que essa sua característica o tornava um abortivo de fácil obtenção, vindo a ser bastante popular nos casos de aborto clandestino.
Ainda hoje, a substância é utilizada e o Infarmed regista-a entre os produtos naturais: “Os ocitócicos, que compreendem certas prostaglandinas, derivados da cravagem do centeio (ergometrina e metilergometrina) e uma hormona do lobo posterior da hipófise (oxitocina), são utilizados para desencadear o aborto ou induzir/acelerar o trabalho de parto e minimizar a perda hemática [de sangue] devida à desinserção placentária [descolamento da placenta no final da expulsão].”

Comprimidos e abortos...

Página 80 - [Enquanto PETER e MONIQUE continuam a falar afectuosamente, ouve-se um grito inesperado, vindo do fundo da cozinha. WINNIE está dobrada em dois, cheia de dores, e desmaiou. Várias pessoas correm para ela – acontece tudo muito depressa, mal se nota. Os rapazes que estão à mesa limitam-se a olhar em volta a observar e não se mexem. PETER e MONIQUE nem sequer ouvem. Só se ouvem algumas vozes indistintas.]

Entre as primeiras pessoas a quem servia pequenos-almoços estavam as empregadas dos quartos. No terceiro dia, uma quarta-feira, a Winnie e a Dolly estavam à espera dos seus pequenos-almoços. - Não me dês bacon, só um ovo, - pediu a Winnie. - Só estrelado. - Era uma mulher grande, grosseira, amigável, tagarela, mal vestida com o cabelo de um cinzento sujo, sempre despenteado, sem os dentes da frente. Com quarenta e cinco anos, era uma mulher gasta, maltratada, nada atraente mas transpirando uma vaga e desagradável sensualidade. Eu tinha acabado de servir três pequenos-almoços de bacon e ovos ao Bob antes de preparar o pequeno-almoço para elas. Quando me virei para lhes entregar a comida, tinham desaparecido. Ali em cima do balcão estavam as bandejas delas com as torradas e o bule do chá, à espera do bacon e dos ovos. Pensando que podiam ter-se esquecido de qualquer coisa, guardei a comida para a manter quente e continuei a servir ao pessoal do pequeno-almoço os pedidos que traziam da sala.
Passaram vinte minutos e a Winnie e a Dolly ainda não tinham aparecido. Por causa do trabalho, não parei para pensar no que lhes teria acontecido, não me pareceu importante. Os empregados voavam para dentro e fora da sala, gritando-me os seus pedidos. Fiquei sem bacon e corri escada abaixo, para ir buscar mais. Nas escadas encontrei o sr. Taylor, que passou por mim. Continuou, passando pelo aquecedor de pratos e saindo pela outra porta, por onde Dolly e Winnie tinham saído. Assim que entrou, ouvi-o parar.
- Olá! Quem é que se tentou matar? O que é este sangue todo? – Não prestei atenção e continuei a descer as escadas, para ir buscar o bacon.
A azáfama da manhã tinha acabado, eu estava a limpar as ruínas gordurosas da primeira refeição do dia, a Winnie e a Dolly não tinham regressado. Quando perguntei à Irene onde elas estavam, respondeu-me que a Dolly tinha levado a Winnie a casa. Perguntei porquê.
- Depois digo-te, - respondeu, de uma maneira que me fez ficar convencido de que a Winnie estava a ter um mau período menstrual. O trabalho continuou.
Foi Dolly quem trouxe as notícias: a Winnie tinha sido levada de urgência para o hospital para ser operada. Tinha tentado fazer um aborto e tinha sido terrivelmente bem-sucedida. O bebé nasceu no meio de uma confusão de sangue, parte do qual estava agora junto da porta, próximo do meu balcão de pequenos-almoços. Mais tarde, nesse dia, Irene chamou-me à parte.
- Estou assustada, - disse. – Por causa dos comprimidos. – A Jacky andava a dar-lhos. E a Ann, que estava grávida de dois meses e meio.
- Ei, Jacky, Annie e Winnie. De quanto tempo é que ela estava?
- Quatro meses.
- Deve estar louca! Não sabe as coisas da vida?
- Devia saber. Tem sete filhos e está casada há cerca de vinte anos.
- De quem era? – perguntei.
- De um soldado amigo dela. Mas e os comprimidos? A Jacky pediu-me para os guardar. E se mos encontram? – Ofereci-me para os esconder mas ela decidiu devolvê-los à Jacky.
As notícias espalharam-se depressa e o Chefe Tom foi lesto em esclarecer o pessoal da cozinha porque, claro, ele era uma autoridade em tudo. As suas palavras são as que usei em A Cozinha após ter acontecido um episódio semelhante.
“Sabia que isto ia acontecer. Não se pode voltar atrás. O que será que leva as pessoas a pensar que se tomarem um comprimido pela boca isso vai afectar o útero? Impossível! Só há uma maneira, da maneira como entrou. O que acontece? Nada! Nada consegue! Tudo o que acontece é que o estômago fica irritado, comprimido, vêm? E isso faz força no útero, pressiona-o. Oh, eu já sabia isto, pois sabia. Só há uma droga que é eficaz pela boca. E sabem o que é? Dente-de-cão. Já ouviram falar? É a única coisa a fazer. E é rara. Oh, sim, estudei isto no exército quando não tinha mais nada para fazer. Muito interessante, esta psicologia. Complicada. Soube que a Winnie estava prenha assim que entrou…

Claro que sabia! Barulhento, vociferante, exaltado, gesticulando exuberantemente, e dogmático sem aceitar contradição. Dei o discurso a Max, o talhante em A Cozinha. Intolerante!

Arnold Wesker conta este episódio a propósito do seu emprego no hotel Bell em Norwich, durante catorze meses, entre 1953 e 1954.

Carros

p. 82 - "GASTON – Já viste o novo Citroën francês? Parece um sapo mecânico, aquilo.
HANS – E o Volkswagen? Não bom carro?
KEVIN – Ora aí está um bom carrinho por pouco dinheiro. "

O «novo Citroën francês» é o Citroën DS, mais conhecido entre nós por “Boca-de-Sapo”. O sucesso deste carro foi tremendo e, durante os seus vinte anos de produção (1955-1975), foram vendidas cerca de um milhão e meio de unidades. O sucesso do DS deveu-se em grande parte ao seu design futurístico e aerodinâmico e à sua tecnologia inovadora (suspensão hidropneumática com corrector de altura, ajustável pelo condutor através de uma pequena alavanca no interior, direcção e embraiagem assistida, duplo circuito de travagem, poder de travagem ajustável à carga e travões de disco no eixo dianteiro).

O Volkswagen é, obviamente, o famoso “Carocha”, um carro que tinha tanto de eficiente como de barato. Apesar do seu real início se dar em 1933 (e os seus impulsionadores Adolf Hitler e Ferdinand Porsche), foi a partir dos nos anos 50 que este Wolkswagen (carro do povo) atingiu o seu boom em termos de produção (cerca de 1 milhão de unidades só em 1954).

Há raposas no deserto...

Página 74 – "VAGABUNDO [para KEVIN] – Ganhei-a no deserto, contra o Rommel."

Erwin Rommel (1891-1949) foi um soldado alemão, nascido em Heidenheim. Educado em Tübingen, distinguiu-se durante a Primeira Guerra Mundial. Foi instrutor na Academia Militar de Dresden e, desde cedo, simpatizante da causa nazi. Comandou a guarda do quartel-general de Hitler durante as ocupações da Áustria, e Checoslováquia e ao longo de toda a campanha da Polónia. Ao comando de uma divisão panzer durante a invasão de França de 1940, mostrou tanta energia e iniciativa que foi promovido a comandante do Afrika Korps, onde as suas espectaculares vitórias contra o delapidado 8º Exército (inglês) lhe valeram a alcunha de “Raposa do Deserto” e a admiração dos seus inimigos. Capturou Tobruk (1942) e forçou a retirada dos ingleses para Al Alamein, mas em Novembro de 1942 foi aí derrotado pelo general Montgomery e teve de fugir para Tunes.

Em Março de 1943, já doente, teve de ser retirado de África, por insistência de Mussolini. Mais tarde, Hitler nomeou-o comandante da Defesa do Canal da Mancha em França. Regressou a casa, ferido, em 1944 e a suspeita de participação numa conspiração contra Hitler pô-lo perante o dilema de escolher entre o esquadrão de fuzilamento ou o suicídio. Tendo escolhido a segunda, envenenou-se, permitindo assim que a sua família continuasse a dispor dos seus bens que não foram confiscados pelo Estado. Estratega brilhante, ainda hoje as suas tácticas de guerra no deserto são estudadas.

Reforma e papelada...

Página 74 – "VAGABUNDO [para KEVIN] – Não costumo fazer isto. Não posso fazer nada até encontrarem a minha caderneta."

Em Inglaterra, até há muito poucos anos, os pensionistas tinham um “pension book” que os identificava como pensionistas e lhes permitia levantar as respectivas pensões e ter acesso aos benefícios da reforma. Também era nesse “livro” que se faziam os registos dos benefícios recebidos. O que temos mais parecido em Portugal é a caderneta da Caixa Geral de Depósitos. Em 2003, devido a razões de segurança e eficácia, o Chancellor (o equivalente inglês ao nosso Minstro das Finanças) começou a mudar o tipo de documentação relativo à identificação de pensionistas.
Hoje em dia as cadernetas já quase não existem, tendo sido substituídas por cartões magnéticos.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

A mania das grandezas...

Página 74 – “KEVIN – Ali o Napoleão.”

Napoleão Bonaparte, nasceu no dia 15 de Agosto de 1769, em Ajaccio, na Córsega. Em 1785 vem para Paris, onde ingressa na escola militar. Em 9, 10 e 11 de Novembro 1799 participa num golpe militar em França, conhecido por 18 do Brumário, e em 13 de Dezembro é nomeado cônsul, juntamente com Cambacérès e Lebrun. As suas vitórias militares e crescente influência levam a que, em 18 de Maio de 1804, por consulta do Senado, seja proclamado imperador dos franceses com o título de Napoleão I.
A ambição de Napoleão era ser senhor de toda a Europa, contrapor o poder de França ao de Inglaterra e fazer frente à América. Envolvido em campanhas militares desde os anos ’90, estendeu o poderio de França a todo o continente europeu, da Itália à Rússia, à Suécia e Polónia. Excelente general, senhor de uma capacidade estratégica notável, reuniu um enorme exército que ao longo de bastantes anos batalhou um pouco por toda a Europa, na maior parte das vezes com sucesso.
Em 1805, tem um primeiro revés importante: a derrota na batalha de Trafalgar. Os ingleses ganham mas Nelson é morto por um tiro de canhão, que o apanhou na ponte do seu navio Victory.


Os exércitos napoleónicos estiveram em Portugal em 1807, comandados por Jounot, que foi derrotado por Wellesley (futuro duque de Wellington) no Vimeiro e capitulou em Sintra. Em 1809, o exército napoleónico, agora comandado por Soult, regressa, e em 1810 é a vez de Massena tentar a sua sorte no nosso país. Devido a circunstâncias como a distância e o auxílio fundamental dos ingleses, Portugal foi um dos poucos países que nunca capitulou perante Napoleão.
Em Setembro de 1812, a sorte começa a mudar. Depois de ter conquistado uma Moscovo em chamas, incendiada pelo czar Alexandre que prefere uma política de “terra queimada” a aceitar as tréguas propostas por Napoleão, a chegada do rigoroso Inverno moscovita, o "general Inverno" surpreende-o. Neva pela primeira vez no dia 13 de Outubro e o exército napoleónico cansado, esfomeado e cheio de frio, é obrigado a bater em retirada. No século XX, Hitler, admirador confesso de Napoleão, cometeu o mesmo erro e, tal como a retirada da Rússia marca o início do fim do poderio napoleónico, também a derrota na frente russa e a retirada de Moscovo marcam o princípio do fim de Hitler e consequente vitória dos Aliados.
No dia 29 de Dezembro de 1813, o Corpo Legislativo francês aprova um texto em que se fala da “ambiciosa actividade de Napoleão” e em 28 de Abril de 1814, vencido, embarca para a ilha de Elba.
Em 1815 regressa para tentar reconquistar o trono mas, depois da derrota na batalha de Waterloo, no dia 18 de Junho desse mesmo ano, é enviado para Santa Helena, onde acaba por morrer em 5 de Maio de 1821.

NOTA: Se querem saber mais alguma coisa sobre esta última fase da vida de Napoleão, a Bruxa recomenda A Última Ilha do Imperador, de Julia Blackburn, Lisboa, Temas & Debates, 200?.

Alteza real...

Página 72 – “VIOLET [para HETTIE] – E também não nos importávamos... tínhamos de nos pôr em fila para a inspecção, todos, cozinheiros também... era civilizado. Uma vez, servi o Príncipe de Gales.”


No dia 1 de Fevereio de 1284, Eleanor, a mulher de Eduardo I deu à luz um rapaz no castelo de Caernarfon, na Gales. Era o décimo primeiro filho do casal. Uma história não confirmável, diz que o rei convidou vários nobres galeses para o palácio e lhes ofereceu uma lauta refeição. Quando já estavam todos bem animados, o rei perguntou-lhes se estavam dispostos a servir um rei que não soubesse falar inglês. Pensando que se referia a um dos nobres galeses presentes, todos afirmaram que sim. Quando o rei lhes mostrou o recém-nascido, ninguém teve coragem de negar o juramento feito.

No dia 10 de Maio de 1301, quando o príncipe Eduardo tinha dezasseis anos, foi formalmente investido como Príncipe de Gales, numa cerimónia em Lincoln. Ao longo dos séculos, este título passou a ser o título formal do herdeiro varão ao trono de Inglaterra. Não é hereditário, ou seja, não é automaticamente conferido por nascimento. Tem de ser concedido numa cerimónia oficial de investidura. O título tem insígnia, bandeira e jóias próprias. Violet refere-se ao príncipe Carlos, designado em 26 de Julho de 1958, 21º detentor do título em 700 anos de História. A cerimónia de investidura ocorreu no dia 1 de Julho de 1969, no castelo de Caernarfon, perante 4.000 convidados, numa cerimónia transmitida pela televisão para todo o mundo. (A Bruxa lembra-se… ai, ai, ai…!)

Calor dourado...

Página 69 – “PETER – Idiota! Adora o som dos fornos! Passas o dia todo à frente deles! Estão em brasa! Primeiro, fritas um bocado de bacon e um ovo numa frigideira; depois, alguém pede uma sopa de cebola e tu metes a sopa, o pão e o queijo noutra tigela, e pões a gratinar; depois alguém pede uma omolete e corres a fazê-la; depois alguém te atira um hambúrguer e tu vais fritá-lo.”

Gratinar –Alourar a superfície de um prato cuja preparação principal foi enriquecida com um molho. Para se obter este resultado mais rapidamente, esse molho é polvilhado com queijo ou pão ralados.

Ao sol no centro de Londres...

Página 67 – “MICHAEL – Demasiado boa, porra... no parque de St. James. Estendido ao sol.”

O parque de St. James está situado no centro de Londres e cobre uma extensão de 23 hectares. Tem um grande lago onde vivem patos, gansos e pelicanos e é o Parque Real mais antigo da cidade. À sua volta existem três palácios: o mais antigo é o de Westminster, hoje sede do Parlamento inglês, o palácio de St. James e o mais conhecido de todos, o palácio de Buckingham.
Em tempos foi uma zona pantanosa e no séc. XIII aí se construiu uma leprosaria, que deu o nome à zona. Em 1532, Henrique VIII decidiu transformá-lo num parque de caça ao veado e construiu o palácio, que ainda hoje existe. Isabel I costumava fazer grandes festas e cerimónias no parque e James I melhorou a drenagem do terreno e controlou as águas da zona. Foi Carlos I quem fez as mudanças mais dramáticas, mandando redesenhar o jardim, onde o era visita frequente e que fez abrir ao público. Durante o período da Casa de Hannover criou-se uma zona para treino e desfiles militares e o desfile dos Horse Guards ainda hoje faz parte da vida do parque de St. James.
O arquitecto John Nash redesenhou-o outra vez, num estilo mais romântico e transformou o canal num lago e, em 1837, a Sociedade Ornitológica ofereceu várias aves ao parque e construiu uma casa para um tratador. Tanto as aves como o cargo se mantêm. Clarence House, outro dos edifícios do Parque de St. James, foi construído pelo Duque do mesmo nome, mais tarde rei Guilherme IV e veio a tornar-se a casa da Rainha Mãe, falecida há poucos anos.

Futebolês 2

p. 67 - "E é o pequeno Michael Dawson, o grande extremo-esquerdo, quem tem outra vez a bola. Vai desperdiçar esta oportunidade de ouro? Será que se aguenta sozinho contra os defesas do Arsenal? Aguenta! Sim! Passa Willis, passa McCullough, passa Young e vai atirar... e atira! – é golo, é golo, sim, o quinto golo dele, para o resultado Leyton Orient dezoito, Arsenal zero."

Quer o Leyton Orient quer o Arsenal são clubes de futebol londrinos. No entanto, as semelhanças ficam por aqui. Ao passo que o Arsenal se manteve ao longo da sua história entre os maiores do futebol britânico (sagrou-se 13 vezes Campeão - 7 delas antes de Arnold Wesker escrever A Cozinha), o modesto Leyton Orient só por uma vez (1961/62) conseguiu chegar à Primeira Divisão.
O extremo-esquerdo é um jogador de ataque (geralmente canhoto), que joga naquilo a que se chama o "meio-campo ofensivo". Ou seja, a sua função é, principalmente, "flanquear" o jogo e ajudar o ataque a marcar golos. Os dois "extremos-esquerdo" da Selecção Portuguesa são Simão Sabrosa e Ricardo Quaresma.
Willis, McCullough e Young eram os três defesas titulares do Arsenal na altura em que Wesker escreveu A Cozinha. Numa adaptação moderna da peça, a frase seria: "Será que se aguenta sozinho contra os defesas do Arsenal? Aguenta! Sim! Passa Eboué, passa Touré, passa Senderos, passa Gallas e vai atirar... e atira!" O futebol evolui bastante desde os anos 50 , e uma das alterações foi a passagem de 3 para 4 defesas...

sexta-feira, 13 de abril de 2007

O Empregado no cinema e na Lusitânia...

Dois aspectos que podem acrescentar à vossa PAP.
A filmografia do Wesker: está toda aqui.

E tudo o que se fez em Portugal a partir da obra dele. Façam uma visitinha ao Centro de Estudos de teatro - a ligação está n'A Cozinha, mas fica aqui também. Vão a "pesquisa" (está do lado direito do monitor), no Formulário de Pesquisa (do lado esquerdo) escolham "pessoas" e escrevam Wesker no campo em branco. Depois, quando aparecer o nome dele, carreguem em cima do dito. A partir daí, se souberem ler (?) conseguirão ficar a saber o que se fez por aí. Fica sempre bem...

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Trabalhar para a Paz no Mundo...

Página 64 - "DIMITRI [levantando-se de um salto] – Ser as Nações Unidas, ein? Uma grande reunião. A Rússia estar aqui, e América e França e a Inglaterra... Alemanha também. Tudo estar aqui. E ter arranjado um concurso. Ser acabadas guerras, acabadas lutas."


A expressão "Nações Unidas" criada pelo presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, foi utilizada pela primeira vez na Declaração das Nações Unidas de 1 de Janeiro de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, quando os representantes de vinte e seis nações comprometeram os seus governos na continuação da luta conjunta contra os países do Eixo: Alemanha e seus aliados.A precursora das Nações Unidas de 1 de Janeiro de 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, quando os representantes de vinte e seis nações comprometeram os seus governos na continuação da luta conjunta contra os países do Eixo: Alemanha e seus aliados.
A precursora das Nações Unidas foi a Liga das Nações, uma organização pensada em circunstâncias semelhantes, durante a Primeira Guerra Mundial, e formalizada em 1919 ao abrigo do Tratado de Versalhes “para promover a cooperação internacional e alcançar a paz e a segurança”. Em 1945, os representantes de cinquenta países reuniram-se em S. Francisco, na Conferência sobre Organização Internacional das Nações Unidas para escrever a Carta das Nações Unidas. Os delegados trabalharam com base em propostas apresentadas pelos representantes da China, União Soviética, Reino Unido e Estados Unidos. A Carta foi assinada no dia 26 de Junho de 1945 por representantes de cinquenta países. A Polónia, que não estava representada na Conferência, assinou a carta mais tarde, tornando-se um dos Estados fundadores. O nascimento oficial das Nações Unidas aconteceu no dia 24 de Outubro de 1945, após a ratificação por parte da maioria dos países signatários.
A ideia na base deste reforçar das Nações Unidas consistia em trabalhar para que uma guerra como a que se vivia não voltasse nunca a ser possível. Os países comprometiam-se com a arbitragem das Nações Unidas e os conflitos seriam resolvidos à mesa das negociações sob os seus auspícios. Portugal aderiu à organização em 1955, quando esta atingiu os setenta e seis membros. Hoje em dia são 192 e o último país a aderir foi o Montenegro. Não existe um hino oficial se bem que, por ocasião do 25º aniversário da ONU o compositor espanhol Pablo Casals tenha escrito uma melodia, cuja letra é de autoria do poeta inglês W.H. Auden. A obra foi tocada na sede da organização no dia 24 de Outubro de 1971, dirigida pelo maestro espanhol.

terça-feira, 10 de abril de 2007

Falta de solidariedade...

Página 62 - "PAUL - Ouve, vou-te dizer uma coisa. [...] Na porta a seguir à minha, na porta a seguir ao sítio onde eu vivo há um motorista de autocarro..."
No Capítulo Sete da sua autobiografia, Quanto Ouso, já aqui publicado, Arnold Wesker conta a história do casal Lil e Bill Gammer e o incidente que está na origem desta fala de Paul.

Escondidos e fantásticos...

Página 61 – “KEVIN – Se pensas que lá por ser irlandês vou começar a perorar sobre gnomos e duendes, bem podes esperar sentado…”

O folclore irlandês está recheado de figuras fantásticas que, alegadamente, interferem na vida dos seres humanos. Existem as banshees, que choram de cada vez que morre alguém de uma família gaélica antiga, o Fir Darrig (o Homem Vermelho) parecido com o Leprechaun, que é um duende sapateiro, guardião dos potes de ouro que só oferece a quem o apanhe e force a revelar os esconderijos. Gosta de atormentar pessoas ambiciosas. As fadas (o “povo pequenino” de pele escura, cabelo desgrenhado e vestidas de azul escuro), as sereias, a Pooka (o ser mais assustador de todo o folclore gaélico: pode assumir a forma de uma cabra, um cavalo ou outro animal), as Selkies, criaturas gentis que de dia são focas e de noite são raparigas e uma série de outras figuras individualizadas que surgem na literatura, na música, na dança e em muitas festas e costumes irlandeses.

O Teatro Político - 1

Introdução

Este livro estuda um fenómeno curioso. Analisa o trabalho de nove talentosos e inovadores dramaturgos britânicos que partilhavam uma convicção louvável mas estranha: que escrevendo peças e conseguindo que fossem representadas, podiam ajudar a mudar a forma como a sociedade está estruturada.
A convicção não é nova. Há mais de dois mil anos atrás, a teoria da catarse de Aristóteles, que afirmava que assistir a uma tragédia poderia expurgar-nos das nossas emoções malsãs, atribuía um benefício social directo ao drama. A Igreja Católica, se bem que tivesse profundas desconfianças em relação ao teatro, esteve disposta a utilizá-lo como forma de propagar a fé, legando-nos o termo “propaganda”. O utilitarismo do séc. XVIII justificou frequentemente o drama em função da sua utilidade social e o dramaturgo alemão Friedrich Schiller deu ao seu ensaio seminal o elucidativo título “O Teatro considerado como instituição moral”.
No século XX, o teatro, com a intenção de se virar para uma nova forma de pensar, ou, pelo menos, desafiar as velhas formas de pensamento, tornou-se mais abertamente político, questionando não tanto a moralidade social enquanto organização fundamental da sociedade, mas colocando a ênfase na economia em vez de na ética. Por regra, moldada pela análise do capitalismo de Marx, uma série de dramaturgos e encenadores, com relevo para Edwin Piscator e Bertolt Brecht, tentou usar o palco para propor alternativas socialistas às injustiças do mundo que os rodeava. Ao fazê-lo ajudaram a definir o que agora designamos por “teatro político”, o título do livro de 1929, de Piscator, sobre o teatro.
Todo o teatro é político. Na realidade é a mais política de todas as formas de arte. Obviamente, é apresentado num fórum muito mais público do que qualquer outra arte. Um romance pode ser lida por muito mais pessoas do que as que assistem a uma determinada peça; os edifícios e as estátuas no espaço público podem ser vistas por muita gente a quem nunca passaria pela cabeça pôr um pé dentro de um teatro, todos os dias, a televisão chega a muitas vezes mais espectadores do que o maior teatro do mundo poderia receber ao longo de uma década. Mas o romance é lido em privado; os passantes, se reparam numa estátua, reagem individualmente; a televisão, mesmo se vista em conjunto por um grupo de pessoas, continua a ser parte de um ambiente doméstico. Como afirma David Edgar: “O problema inerente à televisão enquanto agente de ideias radicais é que a sua audiência de massas não é confrontada em massa. É confrontada na arena atomizada da sala de estar da família, o local onde a maior parte das pessoas é o menos crítica que é possível.”
As artes performativas gozam da característica única de fazer reunir gente num lugar público para responder em conjunto a uma experiência artística, quer seja ver dançar, ouvir uma sinfonia ou assistir a uma peça. E porque o teatro usa palavras, a sua comunicação pode ser bastante específica e desafiadora. No teatro, actores em carne e osso falam em voz alta à frente de, e às vezes directamente com um público. Assim, as ideias e os sentimentos são expressos ao mesmo tempo a uma comunidade de espectadores. Até mesmo o cinema, que talvez seja o que mais se aproxima do teatro ao vivo em termos de recepção, oferece uma experiência muito mais privada e interior (pensemos em quão disparatado seria fazer comentários para o écran, ou na diferença entre a troca de comentários animados no intervalo de uma peça, por medíocre que seja, e a atmosfera de morna indiferença durante a interrupção de um filme).
Tal como o público que está no teatro não consegue evitar assumir um certo papel comum, também o processo de criação artística no teatro é um processo de partilha. Um romance, um poema ou quadro estão completos no momento em que saem da mão do criador e os acidentes de publicação ou exibição têm um efeito mínimo na sua qualidade. Mas o texto do dramaturgo é apenas o primeiro passo num complexo processo que incluirá criativos, encenadores, actores, mestras de guarda-roupa e por aí fora, contribuindo todos com a sua criatividade (ou técnica) para o resultado final, muito adequadamente designada por “produção”.
Ainda mais, o teatro depende da transcendência. Por um lado, os actores têm de transcender a sua própria individualidade para poderem assumir o papel de um estranho. Por outro lado, o público tem de se libertar das suas preocupações individuais para se poder envolver com o que acontece no palco. E este processo, que ocorre tanto no representar empático do realismo como nos sublinhados sociais do teatro Brechtiano, é um acto inerentemente político, uma vez que a origem do pensamento político está na vontade de nos identificarmos com outros, partilhar os seus problemas, experimentar a transcendência.
[…]
Em termos de conteúdo, algumas peças são claramente mais políticas do que outras, mas deveria ser igualmente óbvio que é impossível fazer desfilar em cima de um palco personagens que interagem socialmente perante um público reunido para assistir a essas relações, sem que exista algum conteúdo político. Até mesmo a mais palerma das farsas ou o mais inócuo dos musicais reflectirá uma qualquer forma de ideologia, normalmente, a da sociedade. Neste sentido. Todo o teatro é verdadeiramente político.
[…]
Podemos discernir vários elementos no processo de escrita para o teatro político. Para começar, existe a crença política de cada dramaturgo. […] Também o meio de onde provêm é importante. […] Wesker desconfia profundamente do mundo académico. […] Aquilo que pensam que a sua escrita para teatro pode conseguir. Nenhum é tão ingénuo a ponto de pensar que ver uma peça levaria os elementos do público a correr para as barricadas. […] Talvez nem sequer afecte o seu voto nas próximas eleições. Como escreveu David Hare, em 1991: “O primeiro erro é pensar que os escritores ingleses… querem ter mais influência nos assuntos da nação do que já têm. Na minha opinião, não querem mais do que qualquer outro cidadão provocar a queda do governo ou forçar a aprovação de leis.” […]
John Arden, em 1966, foi igualmente modesto nas suas afirmações quanto à eficácia do seu teatro:
“O protesto é um tipo fútil de actividade no teatro. É altamente improvável que se o presidente Johnson e o senhor McNamara viessem ver esta peça [Sargeant Musgrave’s Dance] dissessem: “Oh, valha-me Deus, temos de sair do Vietname”. … a única coisa que podemos fazer é continuar a dizer o que não gostamos na sociedade em que vivemos.”
Dito isto, fica claro que até mesmo o menos radical deste grupo de escritores tem esperança que um público, após ter visto uma das suas peças, sairá do teatro de alguma forma mudado, com a sua consciência política mais desperta. Como escreveu Simon Tussler, em 1975: “A maior parte das pessoas envolvidas no teatro alternativo espera provavelmente que o seu trabalho, por pouco ou indirectamente que o faça, contribua para uma consciência da necessidade de mudanças sociais, sejam elas graduais e parcelares ou radicais e profundas.” Dois séculos antes, Lessing tinha defendido, na sua Dramaturgia de Hamburgo, referindo-se às comédias de Molière, que estas peças podiam não curar os doentes mas, pelo menos, tornariam os sãos mais saudáveis.

(Pp. 1-8)
Michael Patterson, Strategies of Political Theatre. Post-War British Playwrights, Cambridge, CUP, 2003.

Breve Cronologia, 1953-1989

1953
Joan Littlewood abre o Theatre Workshop em Stratford East.

1954
Ronald Duncan e Neville Blond fundam a English Stage Company.
A primeira peça de Brendan Behan, The Quare Fellow é encenada por Joan Littlewood em Stratford East.

1955
Anthony Eden substitui Winston Churchill no cargo de Primeiro-Ministro
A peça de Samuel Beckett, À Espera de Godot (1952) é levada à cena no Arts Theatre, em Londres.

1956
Crise do Suez. Tropas soviéticas entram na Hungria.
Primeira temporada da English Stage Company (agora com George Devine) no Royal Court Theatre inclui a estreia de O Tempo e a Ira de John Osborne.
O Berliner Ensemble vai a Londres e apresenta O Círculo de Giz Caucasiano e Mãe Coragem, de Brecht.
Morte de Brecht.
Peter Brook dirige Paul Scofield em Hamlet.

1957
Harold Wilson substitui Anthony Eden no cargo de Primeiro-Ministro.
O Animador, de John Osborne é levado à cena no Royal Court Theatre, encenado por Tony Richardson.
Fim de Festa, de Beckett.

1958
Fundação do Mercado Comum Europeu. Primeira marcha a favor do desarmamento nuclear em Aldermaston.
A peça de Harold Pinter, Feliz Aniversário, revela-se um fracasso ao fim de uma semana de espectáculos.
O Refém de Brendan Behan é levada à cena em Stratford East, antes de se mudar para o West End.
John Arden: Live Like Pigs, encenada no Royal Court.
Shelagh Delaney: A Taste of Honey.
Arnold Wesker: Canja de Galinha com Cevada, levada à cena no Royal Court.

1959
Abre o teatro Mermaid.
John Arden: A Dança do Sargento Musgrave, encenada por Lindsay Anderson.
Arnold Wesker: Raízes, encenada por John Dexter.
Arnold Wesker: A Cozinha.

1960
J. F. Kennedy é eleito presidente dos EUA.
Funda-se o Centre 42. Harold Pinter: O Porteiro.
John Arden: The Happy Haven, encenada por William Gaskill.
Arnold Wesker: Falo de Jerusalém, encenada por John Dexter no Royal Court.

1961
Invasão de Cuba pelos EUA (Baía dos Porcos). Construção do muro de Berlim.
Peter Hall assume a direcção artística do Stratford Memorial Theatre e funda a Royal Shakespeare Company.
John Osborne: Lutero.

1962
Crise dos mísseis em Cuba. Primeiros sucessos dos Beatles.
Temporada de teatro da crueldade de Peter Brook.
Edward Albee: Quem tem medo de Virginia Woolf?
Edward Bond: The Pope’s Wedding.
Arnold Wesker: Batatas Fritas com Tudo, dirigida por John Dexter no Royal Court

1963
Assassinato do presidente Kennedy.
Alec Douglas-Home substitui Mcmillan no cargo de Primeiro-Ministro.
O National abre no Old Vic.
John Arden: The Workhouse Donkey.
Joan Littlewood: Oh What a Lovely War!
(Pp. i-xviii)
Michael Patterson, Strategies of Political Theatre. Post-War British Playwrights, Cambridge, CUP, 2003

Engano da Bruxa...


Só quando estava a rever os vossos trabalhos é que a Bruxa percebeu que tinha criado uma nova região de Inglaterra, no condado de Cambridge: não é Ferns, mas Fens.

Trata-se de uma zona de pântanos, em East Anglia, cuja capital é Ely, onde existe uma famosa - e lindíssima! - catedral. Têm aqui a fotografia.

O meu pedido de desculpas e, por favor, emendem isto nos vossos trabalhos.

domingo, 8 de abril de 2007

A Páscoa da Bruxa...



Agora mais a sério: Páscoa será mas a data para a entrega dos trabalhos mantém-se, não tenham ilusões. Por alguma razão a Bruxa é bruxa: quero os vossos trabalhos na minha caixa do correio até às 24 horas de hoje!

E levam um ramo de flores para animar a jornada de trabalho...

terça-feira, 3 de abril de 2007

O Teatro do Pós-Guerra e o Estado

1. Uma Civilização do Povo

O teatro do pós-guerra na Grã-Bretanha era uma criatura do Estado. O Conselho das Artes da Grã-Bretanha foi criado em 1945 e entregaram-lhe £235.000 para, no seu primeiro ano, subsidiar as “belas-artes” – artes visuais, música, ópera, ballet e teatro. Em 1984, quando o Conselho publicou o importante documento, A Glória do Jardim, o seu orçamento elevava-se já a £100.000.000, dos quais cerca de um quarto era gasto com o teatro. Nesta altura, oitenta e duas companhias tinham o estatuto de “subsidiadas pelo Conselho das Artes”, ou seja, dependiam de subsídios regulares do Estado para cobrir a diferença entre as suas despesas e as suas receitas correntes. Quase todos os teatros importantes deste país estavam, e ainda estão, nesta lista: o Teatro Nacional, a Royal Shakespeare Company, a English Stage Company no Royal Court, outros teatros para novos dramaturgos, como o Bush e o Traverse, todos os teatros de reportório da Gales, Escócia e das províncias inglesas e cerca de trinta companhias itinerantes. A maior parte destes teatros foi criada depois de 1945, assentes na premissa de que havia subsídios e muitas companhias fechariam se estes acabassem. O West End continua a funcionar como um enclave da iniciativa privada, mas mesmo aí existem muitas formas de dependência indirecta: os directores do West End, muitas vezes montam espectáculos que, primeiro, mostraram o seu potencial comercial num teatro subsidiado, e para os seus espectáculos independentes próprios, confiam em escritores, encenadores, actores e técnicos que adquiriram a sua experiência e saber em trabalho no sector público. O investimento público é intrínseco à estrutura financeira e física do teatro enquanto um todo.
[...]
Por outras palavras, o teatro subsidiado é uma componente menor do Estado providência do pós-guerra, e a sua origem radica na própria guerra. O Conselho das Artes não foi uma invenção de 1945, mas uma mudança de nome e confirmação em tempo de paz do Conselho para o Encorajamento da Música e das Artes (CEMA), que fora criado em 1940 por iniciativa conjunta dos Ministérios da Educação e da Informação. O CEMA foi um claro expediente dos tempos de guerra: o seu objectivo consistia em desenvolver actividades que substituíssem as iniciativas culturais privadas que se tinham sido interrompidas devido à guerra e contribuir o mais possível para a manutenção da moral do país. Este propósito foi acolhido com entusiasmo por muitos dos agentes culturais envolvidos: considerando que a sua arte tinha sido convocada para um grandioso objectivo comum, dedicaram-se a levar o melhor da cultura inglesa ao povo inglês enquanto todo e fizeram questão de ir a todos os locais e junto de todos os públicos que nunca tinham visto drama literário ou ouvido música clássica, mesmo em tempo de paz. Assim, de forma inesperada, a emergência nacional ofereceu um papel social ao teatro e uma fonte de apoio que os tempos normais não lhe tinham concedido; e o teatro, muito naturalmente, uma vez a guerra terminada, estava decidido a manter essas vantagens materiais. Os políticos e funcionários relevantes concordaram, por uma série de razões: a instituição já existia, porque havia reais pressões do presidente do CEMA, John Maynard Keynes, porque a soma de dinheiro envolvida era relativamente pequena se comparada aos vultuosos investimentos e transferências de dinheiro do sector privado para o público necessários noutras áreas, devido às perturbações da guerra, e porque as actividades em tempo de guerra do ENSA (Associação do Serviço Nacional do Espectáculo), do CEMA, da BBC e da indústria do cinema tinham estabelecido uma definição de actividade artística enquanto valioso trunfo nacional que se podia razoavelmente esperar que o Estado patrocinasse.
Assim, o conceito de pagar as artes resultou numa política consensual do governo e o consenso mantinha-se sem grandes alterações ainda em 1949, quando o Parlamento votou uma autorização que permitiu ao responsável do Tesouro libertar £1.000.000 para a construção de um Teatro Nacional. Os debates em torno desta decisão foram quase comicamente desprovidos de controvérsia e no centro da unanimidade estava a ideia de que o teatro seria, como disse o responsável pelo grupo de pressão, o Visconde de Esher, “a primeira aventura artística da nossa nova, jovem e educada democracia”. Ironicamente, este populismo ambíguo foi especialmente audível na Casa dos Lordes:

"Talvez a Grã-Bretanha possa mostrar que, com a maturidade das suas classes trabalhadoras, consegue emular e deve emular, os padrões, a qualidade e o exemplo que lhe foi dado pelos seus pais e guardiães, a sua aristocracia antiga. Com a construção de um Teatro Nacional na margem do Tamisa daremos, esperamos, uma contribuição no sentido de uma civilização do povo ideal."

[...]

Não era impensável conceber um modelo alternativo. Na realidade, ele existia. Em Agosto de 1945, um mês depois da criação do Conselho das Artes, o grupo itinerante de Joan Littlewood, Theatre Workshop, abriu uma escola em Kendall. O seu manifesto tinha uma linguagem não muito diferente da do responsável do Tesouro:

“Os grandes teatros de todos os tempos foram teatros populares que reflectiam os sonhos e as lutas do povo. O teatro de Ésquilo e Sófocles, de Shakespeare e Ben Jonson, da commedia dell’arte e de Molière buscavam a sua inspiração, a sua linguagem, a sua forma artística junto do povo.
Queremos um teatro com uma linguagem viva, um teatro que não tenha medo da sua própria voz e comente tão destemidamente a Sociedade como o fizeram Ben Jonson e Aristófanes."

(Pp. 306-9)

Representar sem Artifícios: o Drama a Sério

No início do séc. XX, o naturalismo era a forma que distinguia o desejo da polémica; quando, mais tarde, se tornou político, diz-se que, tipicamente, a sua política estava ligada ao sentimento e à experiência. Assim, durante a década de 70, houve um naturalismo “político” que encontrou o seu papel como guardião de uma esquerda inglesa especial, uma área onde o marxismo podia assumir-se como humanismo. Num claro oposto à abstracção, teoria, estruturalismo e arte impopular, a realidade do naturalismo não era sectária.
“Se evoluir, será para me afastar do naturalismo... mas continuarei a tentar recriar a realidade da minha experiência. Não serei não-naturalista só por ser, como não fui naturalista só por ser; interesso-me pelos dois apenas na medida em que me ajudem a comunicar o significado que a experiência teve para mim.” As palavras são de Arnold Wesker, dramaturgo de “lava-louças” do final dos anos 50, socialista, fundador de um centro cultural sindical. Para Wesker, a experiência tem de ser separada da forma artística. E a forma de arte define-se pela ajuda que dá à experiência: “A arte é a recriação da experiência, não a sua cópia.” Quando é apanhada a copiar, a arte é acusada em termos políticos.

(Pp. 282-3)
Simon SHEPHERD & Peter WOMACK, English Drama. A Cultural History, Oxford, OUP, 1996

Teatro Inglês a partir de 1955 - 2

Apêndice: Ano por Ano 1955-78

1955

O que acabou por revelar-se o acontecimento teatral mais importante do ano foi a produção de À Espera de Godot, de Samuel Beckett, no Arts Theatre, em Agosto, mais de dois anos e meio depois da sua estreia em Paris (Janeiro de 1953). Foi encenado por Peter Hall, que fora nomeado director artístico do teatro em Janeiro, após um ano como assistente de encenação.
No West End, o espectáculo duplo Separate Tables, de Terence Rattigan ainda se mantinha. Em Maio, no Lyric, Hammersmith, Peter Brook encenou A Cotovia, uma adaptação de L’Alouette de Anouilh, feita por Christopher Fry, que se manteve em cena ao mesmo tempo que O Tigre à Porta, de Giraudoux, também na adaptação de Fry. Em Setembro estreou O sr. Chaleira e a sra. Lua, de J. B. Priestley, encenado por Tony Richardson. Em Stratford-upon-Avon, Brook encenou Titus Andronicus, com Olivier e Vivien Leigh. Joan Littlewood deslocara a sua companhia, Theatre Workshop, para o Theatre Royal, Stratford East, no final de 1953, e os espectáculos que aí montou em 1955 foram Ricardo II, Volpone [Ben Jonson] e O Chapéu de Palha de Itália, de Labiche. Em Junho, no festival de Devon, em Barnstaple, encenou Mãe Coragem, de Brecht, desempenhando ela mesma o papel da protagonista.

1956

Em Abril, a English Stage Company estreou no Royal Court Theatre, com George Devine como director artístico e Tony Richardson como sócio. O primeiro espectáculo foi A Árvore das Amoras, que passou a fazer parte do reportório, ao lado de As Bruxas de Salém, de Arthur Miller, escrita em 1953. Em Maio, foi a vez de O Tempo e a Ira, de John Osborne ao mesmo tempo que um espectáculo duplo de Ronald Duncan, D. Juan e A Morte de Satanás. Seguiu-se a adaptação de Nigel Dennis do seu romance Bilhetes de Identidade, em Junho e A Boa Mulher de Seztuan, de Brecht, em Outubro.
[...]
No teatro Phoenix, Peter Brook encenou três peças com Paul Scofield no protagonista: Hamlet, uma adaptação do romance de Graham Greene, O Poder e a Glória, feita por Dennis Cannan e Pierre Bost e uma reposição da peça de T. S. Eliot, Reunião de Família, de 1939. [...] Os outros espectáculos de Joan Littlewood em Stratford East incluíram Eduardo II de Marlowe e uma adaptação do texto de Hasek, O Bom Soldado Schweik.

1957

O Animador de John Osborne foi levado à cena no Royal Court, em Abril, encenado por Tony Richardson, mas o esforço da companhia para encontrar novos dramaturgos revelou-se infrutífero. O texto The Making of Moo, de Nigel Dennis, foi montado na sua totalidade em Junho, encenado por Tony Richardson, mas a inovação mais importante do ano foi o espectáculo de domingo à noite sem cenário. Por £100 libras cada, experimentaram-se cinco peças, incluindo As Águas de Babilónia de John Arden e A Resounding Tinkle, de N.F. Simpson.

1958

Feliz Aniversário, de Harold Pinter, estreou no Lyric, em Hammersmith, encenada por Peter Wood, mas sobreviveu a apenas 16 espectáculos. Canja de Galinha com Cevada, de Arnold Wesker, foi levada à cena no Royal Court em Julho, mas esteve só uma semana e apenas enquanto parte de uma temporada de quatro semanas em que companhias de reportório da província trouxeram espectáculos a Londres. (John Dexter dirigira a peça no Belgrade Theatre, Coventry). As produções próprias da English Stage Company no Royal Court incluíram Epitáfio para George Dillon, de John Osborne e Anthony Creighton e O Divertimento da Minha Mãe Louca, de Ann Jellicoe, que ela co-encenou com George Devine, um pouco mais tarde. [...]
Também no West End houve uma súbita proliferação de novas peças inglesas: [...] A Estufa, de Graham Greene, Variações Sobre um Tema, de Terence Rattigan, A Festa, de John Arden e Exercício para Cinco Dedos, de Peter Shaffer. [...]

1959

John Dexter encenou Raízes, de Wesker, em Coventry, com Joan Plowright e o espectáculo esteve no Roayl Court durante quatro semanas, tendo depois passado para o West End. [...]
Em Outubro, Lindsay Anderson encenou A Dança do Sargento Musgrave, de John Arden e nos espectáculos de domingo à noite encontramos A Cozinha, na encenação de John Dexter. [...]
No West End houve relativamente poucas peças inglesas novas, mas O Amante, de Graham Greene foi encenado por John Gielgud e John Osborne encenou o seu próprio musical, O Mundo de Paul Slickey, que estreou em Maio, após uma digressão na província, mas que se aguentou apenas durante 47 espectáculos.
O Mermaid, o primeiro grande teatro do pós-guerra em Londres, abriu em Maio.

1960

Os administradores do Shakespeare Memorial Theatre, Stratford-upon-Avon, escolheram Peter Hall como director artístico e a companhia abriu a sua primeira temporada em Londres no Aldwych, em Dezembro, com A Duquesa de Malfi, dirigida por Donald McWhinnie.
Um espectáculo duplo de Pinter, O Quarto e O Serviço, foi apresentado no Hampstead Theatre Club, transferindo-se depois para o Royal Court. Aí, em Junho, foi montada a trilogia de Wesker (Canja de Galinha com Cevada, Raízes e Falo de Jerusalém), dirigida por John Dexter. Em Setembro, O Porto Feliz de John Arden e Margaretta d’Arcy foi encenado por William Gaskill.
Os espectáculos de domingo à noite incluíam um espectáculo duplo de Christopher Logue, Julgamentos de Logue e A Torre, de Gwyn Thomas.
No West End, em Maio, encenado por Donald McWhinnie, estreou O Encarregado de Pinter, espectáculo que se manteria durante cerca de um ano. Um Homem para a Eternidade de Robert Bolt, estreou em Julho, e fez 320 espectáculos. Em Agosto, outra peça de Bolt, O Tigre e o Cavalo, estreou no Queen’s Theatre. Peter Hall encenou a peça de John Mortimer, O Lado Errado do Parque, e Ross, de Terence Rattigan iniciou uma longa carreira no Haymarket, em Maio. Estrearam ainda Billy Mentiroso, de Keith Waterhouse e Willis Hall, encenada por Lindsay Anderson e À Espera nos Bastidores, de Noël Coward.
[...]

1961

A companhia dirigida por Peter Hall em Stratford e no Aldwych passou a ter o nome de Royal Shakespeare Company e a primeira peça nova que estrearam em Londres foi Os Demónios, de John Whiting, que Peter Hall encenou no Aldwych, em Fevereiro.
No Royal Court, fez-se o primeiro espectáculo completo de A Cozinha, em Junho, mais uma vez encenada por Dexter e a peça Lutero, de John Osborne, foi encenada por Tony Richardson, tendo estreado em Julho.
[...] Com excepção de Lutero e dos espectáculos que tinham vindo de Stratford, havia poucas peças inglesas novas em cena [no West End] nessa altura.

HAYMAN, Ronald, British Theatre since 1955. A Reassessment, Oxford, OUP, 1979.
(Pp. 148-152)

Hino...

Página 59 – [Neste momento, HANS começa a cantar a cação “Horst Wessel” à guitarra.]

Horst Wessel (9 Setembro 1907, Bielefeld – 23 Fevereiro 1930, Berlim) juntou-se ao partido nazi em 1926. Foi morto por inimigos políticos numa luta na sua casa, em Berlim. Aclamado como mártir da causa, a sua canção tornou-se o hino oficial dos nazis. Foi talvez a mais famosa canção nazi.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

O Teatro Inglês a partir de 1955

“Inovação e Conservadorismo”
[...]
Sem grande importância em termos de estilo e não tendo desafiado os limites do género dramático, Wesker foi importante enquanto reformador do teatro. Os temas e as personagens ligados às classes trabalhadoras não estiveram totalmente ausentes do palco inglês antes de 1955, mas as peças de D. H. Lawrence [que tratavam estes temas e personagens] não tinham tido grande impacto no teatro dos anos vinte e até mesmo o próprio Lawrence não tinha cortado fatias de vida da classe trabalhadora tão grandes nem as tinha empilhado de forma tão pouco cerimoniosa em cima de um palco como fez Wesker que, na realidade, estava a dizer: “Vejam como foi preciso mexer em tão pouco para vos dar drama”. Nem em 1955 alguém pensaria possível que fosse possível alcançar um sucesso em larga escala com uma peça em um acto, com 29 personagens e com a totalidade da acção a desenrolar-se dentro de uma cozinha. Ninguém teria acreditado que uma trilogia de peças sobre os comunistas judeus e os agricultores de Norfolk [Trilogia de Wesker] tivesse a mínima possibilidade de ser levada à cena. E ninguém teria adivinhado que o West End saudaria uma peça de elenco exclusivamente masculino que parece ser sobre o serviço militar obrigatório [Batatas Fritas com Tudo] mas que evolui para um feroz ataque ao nosso sistema social. Termina com o hino nacional, a ser tocado para uma plateia sentada.
Assumidamente A Cozinha, que foi levada à cena em 1959, fora escrita em 1956, para televisão e foi do encenador John Dexter a ideia de estruturar a versão de palco com um interlúdio lento, calmo, sonhador, entre os dois episódios de actividade frenética. Wesker tinha arranjado um guião em que as acções produzem os efeitos mais importantes: os cozinheiros e cozinheiras a fazerem o seu trabalho, uma dança, um acidente, uma partida, uma disputa, um cozinheiro que perde a cabeça. [...] Wesker mostra como o ritmo de uma rotina de trabalho pode determinar não só o ritmo das relações que são possíveis nesse contexto como também o ritmo da vida das personagens. Não é só que tudo o que fazem tenha de se acomodar em torno do seu trabalho: são o que são por causa do seu trabalho e a maneira mais directa de se expressarem é através da forma como trabalham. A decisão de Dexter de eliminar a comida teve o resultado de concentrar a atenção na mímica dos cozinheiros e estes caracterizavam-se com maior clareza através da forma como amanhavam peixe inexistente ou tendiam massa imaginária. Ao mesmo tempo, o estilo de produção fez com que esta peça naturalista parecesse experimental.
A principal fonte de irregularidade nas peças de Wesker é a separação entre a acção e o argumento. O seu objectivo não consistia apenas em contar histórias mas destruir “os argumentos cegos e simplistas, as expressões banais que são as barricadas que o homem da rua ergue contra tudo o que seja novidade”. Queria “dar às pessoas uma visão de um aspecto da vida que nunca tivessem visto antes; mais ainda, transmitir-lhes algum do entusiasmo que sinto pela vida. Quero ensinar.” [1]

[1] “Let Battle Commence”, Encore, vol. V, Nº 5 (nov.-Dez. 1958), p. 19.
HAYMAN, Ronald, British Theatre since 1955. A Reassessement, Oxford, OUP, 1979.
(Pp. 44-6)

Exército Republicano Irlandês...

Página 59 – “KEVIN [canta] – E o Exército Republicano Irlandês deu cabo dessa merda toda. Ora aí está uma coisa de loucos!”

O Exército Republicano Irlandês (IRA) descende de um grupo que lutou pela independência de Inglaterra e a obteve entre 1916 e 1921, quando a Irlanda foi dividida e os seis condados do Norte foram agrupados na província britânica do Ulster, ou Irlanda do Norte. O IRA surgiu durante o final dos anos 60, auto-designando-se defensor da minoria católica do Norte, cujos esforços para obter direitos civis de forma pacífica obtiveram como resposta a violência da maioria protestante unionista. Até aos anos 90, a organização levou a cabo actos terroristas como ataques furtivos, bombas e assassinatos, num esforço de conseguir a independência de Inglaterra e reunificar a província com a República da Irlanda. O Sinn Fein, que quer dizer “Nós Sozinhos” em gaélico, é o braço político do IRA.

Triunfos militares...

Página 59 - "PETER - É o meu arco e eu era... e eu era…”

O arco do triunfo, um monumento erguido em comemoração de uma vitória militar, era dedicado ao general que a tivesse obtido. Os mais antigos de que há memória foram construídos em Roma. Um dos mais conhecidos é o de Paris, mandado construir por Napoleão após a batalha de Austerlitz (1805) depois de ter prometido aos seus soldados que seriam homenageados no seu regresso a casa. No entanto, apesar de ter sido começado em 1806, só foi terminado em 1836, já no reinado de Louis-Philippe. Em 1920, colocou-se o túmulo do soldado desconhecido, morto durante a Primeira Guerra Mundial, debaixo do Arco e é também aí que, desde 1923, todos os dias, a chama da memória é reavivada.

Peixe semanal...

Página 56 - "KEVIN - Mil e quinhentos clientes e metade a comer peixe. Eu tinha de começar a trabalhar numa sexta!”

Kevin é irlandês e a Irlanda é um país católico. Durante muitos anos - e na década de 50 isto era verdadeiro - os católicos não comiam carne à sexta-feira, estendendo assim ao ano inteiro o sacrifíco da abstinência. Kevin, esquecendo que a Inglaterra é anglicana, protestante portanto, e não segue este costume, reage segundo o que aconteceria no seu país.

Arrependimento...

Página 56 - "HANS está sentado num canto, com uma guitarra, a cantar "Ah, pecador" em alemão."

Foi impossível encontrar a referência exacta desta canção. Trata-se certamente de um hino religioso, de penitência.

Tenro e suculento...

Página 45 - "BETTY [para GASTON] - Três entrecôtes."

"Entrecôte" quer dizer "entre costelas" e refere-se a um pedaço de carne de vaca retirado da zona das costelas, mais precisamente de entre as costelas 9 e 11. É um corte extremamente tenro e saboroso. Resulta em bifes bastante altos. Não confundir com entrecosto.

Trálarálará...

Página 43 - "PETER [canta] - Falling in love again."

Canção cantada por Marlene Dietrich e que podem encontrar aqui. Letra & Música de F. Hollander & S. Lerner.
Em Dezembro de 1953, após um período de trabalho no cinema, Marlene Dietrich deu início a uma segunda carreira como cantora, ao actuar no Sahara Hotel, em Las Vegas. Manteve-se em digressão durante 22 anos e encantou o mundo todo com as suas canções inesquecíveis. Muitas já eram conhecidas do público, uma vez que faziam parte dos seus filmes, tendo-se tornado extremamente populares. Falling in Love Again foi uma delas.

Verde, verdinha...

Página 42 - DAPNHE [para NICHOLAS] - Três saladas francesas."
"Salada francesa" é uma expressão que designa uma variedade de saladas, com bacon e ovos escalfados, batata, caju e manga ou outras coisas variadas. Normalmente é fria, mas pode também ser quente. Enfim, é uma salada que, por si só, faz uma refeição leve.