sábado, 26 de maio de 2007

Quanto Ouso - Capítulo Vinte e Três

E depois Robert

Escrever é uma coisa; no momento em que se coloca o manuscrito dentro de um envelope para o ir pôr ao correio, o trabalho desliza para fora do nosso olhar para dentro do olhar de outra pessoa. Os nossos olhos transformam-se nos olhos da pessoa a quem o estamos a mandar. De repente, as suas imperfeições saltam à vista. A confiança esboroa-se. Lembro-me de que nos primeiros anos em que ensaiei peças me sentia bem até ao momento em que me sentava no meio do público, na noite da estreia. Mesmo então me mantinha calmo até ao momento em que as luzes deseciam e eu passava ser parte integrante da massa anónima que tinha vindo ver o que eu agora sentia como tendo sido escrito por outra pessoa.
[...]

22.5.55

Li o seu conto “O Banho” com grande interesse. Penso que tem algumas coisas muito boas; mas, mesmo assim, parece-me que falha o objectivo...

12.1.56

Gostei muito do sentimento expresso no seu poema, mas penso que ainda não conseguiu dar-lhe uma forma inequivocamente sua.
Após ter pensado bem, temo ter chegado à conclusão de que não conseguirei encontrar lugar para ele. Lamento muito. Devolvo-lho mas com pena.

14.12.56

Lemos o seu novo manuscrito com interesse considerável, em especial a prosa, e gostámos de muitos dos seus aspectos. No tentanto, temo que... Lamento muito... Agradeço o prazer que me deu ao lê-lo.

Três meses mais tarde, escrevi A Cozinha.

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