O rodovalho é mais outro peixe espalmado. De forma parecida com um vago losango, pode atingir 1 metro de comprimento. Portanto, pode ser um gigante! Tem carne branca, de sabor delicado, e também há quem lhe chame “pregado”. Come-se preparado de várias formas: assado, grelhado, frito ou cozido. Inteiro, se for pequeno, à posta se for gigantesco.
sexta-feira, 30 de março de 2007
Vamos à lota!
O rodovalho é mais outro peixe espalmado. De forma parecida com um vago losango, pode atingir 1 metro de comprimento. Portanto, pode ser um gigante! Tem carne branca, de sabor delicado, e também há quem lhe chame “pregado”. Come-se preparado de várias formas: assado, grelhado, frito ou cozido. Inteiro, se for pequeno, à posta se for gigantesco.
Comer a andar...
“A Bruxa passou-se… estamos podres de saber o que é bacalhau. Porque é que ela faz um comentário ao bicho?” estão vocês a pensar.
Pois, lamento dizê-lo, mas a Bruxa não se passou nada e não está a fazer comentário nenhum ao bico. Está a fazer um comentário à forma como o bicho é comido.
O gadídeo (vão ver ao dicionário!) é o mesmo, mas os ingleses não conhecem o bacalhau salgado seco de que os portugueses tanto gostam. Eles preferem-no fresco (estão mais perto da zona de pesca, também…) e fizeram dele um dos mais antigos pratos de fast food da Europa. Passado por farinha e ovo e frito, acompanhado de batatas fritas em palitos grossos e embrulhado numa folha de papel de jornal, era o conhecidíssimo fish‘n’chips
Cantorias...
quinta-feira, 29 de março de 2007
Fornos e câmaras de gás...
Em princípio e em teoria, estes campos destinavam-se a manter prisioneiras todas estas pessoas. Contudo, com o passar do tempo, o regime viu-se confrontado com a vastidão dos números e a enormidade da tarefa, ao mesmo tempo que as teorias racistas se desenvolviam e afirmavam. Assim, no que denominou Solução Final, o regime nazi resolveu transformar alguns desses campos em campos de extermínio e para aí encaminhou muitos dos prisioneiros. A forma de extermínio escolhido foi prioritariamente a câmara de gás, após o que os corpos eram cremados. No final da Guerra, havia perto de 6 milhões de mortos entre os judeus e uma contagem final de 50 milhões, entre prisioneiros, militares e civis, mortos durante a luta.
Os campos de extermínio mais importantes foram, por ordem alfabética: Auschwitz – Birkenau (entre 1.100.000 e 1.500.000 mortos), Belzec (600.000), Chelmno (340.000), Jasenovac (700.000) Sobibor (250.000), Treblinka (+ 800.000), Varsóvia (200.000).
quarta-feira, 28 de março de 2007
Quanto Ouso - Capítulo Onze
Deixei Upton House durante o Verão de 1948, com 16 anos, não tendo conseguido obter o certificado escolar. Queria ser escritor mas pensei: os escritores escrevem o que fazem, onde quer que estejam. Tenho a responsabilidade de contribuir para a minha família e tenho de trabalhar.
Sendo eu quem era, que trabalho estaria mais perto do acto criativo que satisfizesse a minha necessidade de “fazer” coisas? Fabrico de móveis, claro! O ofício do meu querido cunhado que, pouco tempo depois, adaptaria um celeiro em Norfolk para fazer mobília à mão, incluindo mini cadeiras Windsor que a Rainha Mãe compraria para dar aos netos, Anne e Charles. O Ralph arranjou-me um trabalho como aprendiz de um velho artesão judeu, o sr. Goodman, onde esperei assentar e aprender a arte de fabricar mobília antiga.
[...]
Ensamblava pequenas juntas e esculpia respigas e mechas para ele. Cortava à medida pequenos bocados de varetas de secção quadrada e colava-os no interior das gavetas. Punha pregos na boca e pregava fundos de contraplacado que ele depois folheava. Lixava frentes de gavetas que eram mandadas para outro local para serem “gastas”.
Mas foi um erro. A vida de artesão não era para mim. Nem a mão nem o coração eram firmes.
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Queria manter-me fiel à madeira e às ferramentas [...] e tornei-me “companheiro” de um carpinteiro poucos anos mais velho do que eu chamado Tom Carter, cujo sotaque cockney era tão carregado que a minha mãe não fazia a mínima ideia do que ele dizia. Eu tinha de o traduzir.
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Trabalho – espanejar livros
Estive poucos meses com o Goodman e poucos meses com o Tom. A minha mãe partilhou os seus receios com o Tio Perly que se fartou de pensar e acabou por ter uma ideia. “O Arnold quer ser escritor? Conheço um homem, o Louis Simmonds, que tem uma livraria em Fleet Street, que dirige com a mulher, a Rose.” Fantástico! Ia ficar perto de livros!
[...]
As minhas principais tarefas consistiam em limpar o pó batendo os livros uns contra os outros e inspirando o que quer que fosse que se soltasse, reinstalar a ordem depois de os clientes terem espalhado os livros por todo o lado e estar atento aos ladrões de livros.
Ler? Quase nunca. Durante a pausa do almoço, por vezes. Quando estava preso a um livro, empoleirado no alto de uma escada, uma tossezinha do senhor ou da senhora mandava-me descer à terra e fazia-me percorrer as tentadoras prateleiras a que havia que resistir como ao traseiro de uma mulher.
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Estamos em 1950
Os meus dezoito anos. No dia 9 de Novembro apanharia o comboio para a Base Aérea de Padgate – despedindo-me na estação da minha mãe e de Shifra – para dar início a um ano e meio de serviço militar. Entretanto, tinha sido um ano movimentado: trabalhara para Louis Simmonds, depois para Robert, depois como ajudante de canalizador na doca de St. Katherine. [...] Foi o ano em que recebi da LAMDA [London Academy of Music and Dramatic Arts] a Medalha de Prata de Dicção [...]. Foi o ano em que fiz a primeira audição para a RADA [Royal Academy of Dramatic Art] e não consegui ganhar a bolsa da LCC. Nesses tempos os estudantes que precisavam delas recebiam-nas automaticamente no momento em que fossem aceites por uma universidade. Não era o caso dos alunos de artes. Para a música, dança, pintura e interpretação a LCC tinha a sua própria barreira defensiva, um segundo painel de avaliadores. Bem vistas as coisas não se pode confiar nos directores das escolas artísticas, aceitam quem quer que seja para garantirem o dinheiro.
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Mil novecentos e cinquenta foi o ano em que escrevi a minha primeira peça, E Depois de Hoje para os Query Players, nada boa, e “Retrato de um Homem”, um retrato não disfarçado do meu pai e da sua vida nos anos com a minha mãe, com vinte e quatro páginas escritas à mão, e que continha já as sementes de Canja de Galinha com Cevada, escrita sete anos mais tarde.
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[Teve uma curta carreira de actor amador, sem grande sucesso]
Em mim, o actor permanece. Adoro ler e leio bem. Desde Roma que as minhas aparições em palco, para lá das conferências, consistem em leituras das peças e histórias. Na sua maior parte leituras de Peças Para Mulheres em Um Acto.
[...]
Dêem-me um banco de bar, uma mesa, um copo de água e um público e eu resplandeço com aquele poder que pela primeira vez experimentei quando fiz o Rei Cophetua. Não é um talento, antes uma facilidade em cativar, segurar e controlar o público. Gostaria imenso de ter um sítio onde se soubesse que eu iria estar todos os domingos durante um ano, a ler qualquer coisa.
(Pp. 215-234)
Quanto Ouso - Capítulo Dez
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Aos dezasseis anos [1948] fui aprendiz de marceneiro em Norton Folgate, Londres E1, dispondo de uma facilidade de organização aprendida no Habonim. [1]
[...]
Preso por Homicídio
[...]
Durante algum tempo, tomei conta de uma desmazelada banca que ele [Robert, o director de uma escola em que Wesker andou] alugara no Mercado de Bermondsey, onde vendia trastes de ferro-velho e travou amizade com Tommy Steele, antes de ele se tornar Tommy Steele. Não soube nada desta relação até alguns anos mais tarde, ocupado que estava a vender ninharias naquela abjecta e patética carreta de madeira com uns poucos objectos abandonados que Robert adquirira em leilões de salvados: armadilhas ferrugentas, bocados de canos, chávenas de plástico, caixas de parafusos, os detritos de pequenas aventuras de negócios falidas e vidas falhadas. Não me lembro de alguma vez ter vendido o suficiente num dia para pagar o meu salário.
Felizmente, os meus tempos de vendedor no mercado foram curtos. Semanas, acho. Depois, Robert dedicou-se aos livros. Alugou uma cave em Holland Place, à saída de Kensington Church Street e gradualmente encheu-a de livros em segunda mão que poucos pareciam querer – havia uma tabuleta do lado de fora que não parecia convencer ninguém. Passei mais tempo a arrumá-los e ordená-los do que a vendê-los. Não que me importasse. Até mesmo agora, que vivo no maior centro mundial de venda de livros em segunda mão, dou comigo nas lojas de Hay a dar satisfação a essa necessidade de arrumar os livros que clientes descuidados deixaram fora do seu lugar.
[...]
Uvas em Long Acre
[...]
Por volta desta altura, estamos em 1949, dois empregos ocasionais. Um, na cidade, um armazém onde os fabricantes de casacos e blusões de cabedal vinham comprar as peles. A minha função, com outros, consistia em empurrar carrinhos cheios de peles que os compradores escolhiam num catálogo, fazer escorregar as peles de cima do carrinho, bater com elas num banco de madeira e virá-las para serem inspeccionadas, uma a uma. Tínhamos um salário-base mas o grosso dos ganhos, que eram substanciais, provinha das gorjetas – um trabalho em períodos curtos, que aparecia de vez em quando, e que pode ter dado uma ajuda na viagem para Paris. O outro trabalho, também de substituição, causou grande impressão em mim. Um escritório em Long Acre – nesses tempos, parte do florescente e barulhento mercado de fruta de Covent Garden – onde manuseava um telefone e apontava as encomendas dos grossistas de fruta – uma revelação quanto à loucura deste mundo louco. O meu patrão não fazia mais nada a não ser comprar um carregamento de fruta num telefone e vendê-lo aos caixotes noutro. Nessa altura comemos muitas uvas em Weald Square [casa da família de Wesker]. Terão sido um presente? Comprava-as ao preço de custo? Fariam parte do meu salário? Acho que era grego. Ou do Chipre. Guardei-o num canto durante vinte e sete anos.
(Pp. 199 – 214)
[1] Organização criada em Inglaterra em 1932, que tinha por iobjectivo treinar os jovens judeus para o regresso a Israel, onde trabalhariam em kibbutzin e contribuiriam para a construção do Estado de Israel. Wesker juntou-se-lhes em 1945 e manteve-se com eles durante 3 ou 4 anos, até sair da escola.
terça-feira, 27 de março de 2007
Quanto Ouso - Capítulo Sete
Um quarto só meu
Poderá ter tido mais do que 3,60m por 2,40m? Um quarto que era uma caixa. Normal. A janela deitava para o pátio de recreio de Weald Square onde as crianças brincavam e se pendurava a roupa. Foi meu logo desde o início e senti-me um privilegiado.
[A família de Wesker viveu sempre em casas camarárias, pequenas e sem condições. O dramaturgo transcreve algumas cartas da mãe a queixar-se e a pedir que a mudassem de casa.]
Com um quarto só para mim veio o hábito de armazenar e ordenar. Arrumei os meus poemas, pus folhas de papel e papel químico nas gavetas, alinhei os meus livros por ordem alfabética em prateleiras e no parapeito da janela. Armazenados e pendurados. Um quarto só meu encorajou a minha mania de pendurar coisas – um instinto animal para reclamar um espaço. Os actores fazem isto aos camarins. Penduram os cartões da estreia; a mesa fica coberta com tralha vinda de casa... uma almofada preferida, um lenço que enfeita um espelho de estimação, um cobertor velho para umas sestas. O que armazenai nos meus sessenta e oito anos de vida vive em caixas, numeradas de um a sessenta e oito em folhas de papel de computador, nos sótãos de Ashley Road e Blaendigeddi. Em termos ideais, gostaria de construir uma sala de armazenamento separada que contivesse tudo: manuscritos originais, diários que chegariam para cinquenta romances escritos à mão em cadernos, teses académicas, arquivos do Quarenta e Dois, declarações de direitos de autor, provas de livros, exemplares da Time Out desde o primeiro número, cartas dos agentes, cartas dos tradutores, cartas de instituições a convidarem-me para fazer palestras e doar dinheiro, correspondência de toda a gente. E livros de cheques. Tudo está armazenado, incluindo o meu primeiro livro de cheques, que começa em Junho de 1958.
[...]
E tudo porque, com a idade de dez anos, me deram um quarto só para mim que me incitou a manter a ordem. Que teria acontecido se o não tivesse? Que personalidade teria? Esta pretensão que tenho de ser um espírito livre (sim, sim, eu sei, ninguém é realmente livre), esta confiança, será que começa num quarto que é só nosso? Eu só sei que rejubilei com a nova liberdade proporcionada por este apartamento do LCC [London City Council – Câmara de Londres] na Upper Clapton Road, um quarto que arrumei, arranjei e rearranjei vezes sem conta.
[...]
Vizinhos
Os vizinhos que a minha imaginação fixou e que se tornaram a imagem da classe trabalhadora inglesa, destruindo, de forma quase irracional, a minha percepção, foram os Gammer, da porta ao lado.
[...]
A humanidade está dividida de muitas formas: ricos e pobres, doentes e saudáveis, sensatos e tolos, bons e maus, todos os conhecemos; mas talvez uma das divisões mais tristes seja entre os que dão e os interesseiros. A minha mãe fazia parte dos que dão – acho que todos os Perlmutter são assim – e entre os sensatos e os tolos, provavelmente estava nos tolos. Os Gammer nem davam nem eram tolos. Apesar de a nossa família ter tomado conta da Lil e do pequeno Michael durante os últimos anos da guerra, ela nunca retribuiu a hospitalidade. Lembro-me de empréstimos – os vizinhos costumavam pedir emprestado quando as rações acabavam – e lembro-me de que podíamos ir ao apartamento dela para pequenos períodos de conversa, mas que não havia uma reciprocidade genuína e calorosa. Quando o marido marinheiro regressou e retomou a vida civil como motorista de autocarros, o casal tornou-se mais frio e até libertou ocasionais odores de anti-semistismo, do género nunca assumido abertamente, apenas insinuado de formas que acabámos por reconhecer: “Vocês, a vossa gente mantém-se unida, estão sempre à parte... não deviam ficar admirados se...” O que me traz à história do David Hare.
A história de David Hare – um aparte
Hare é um dos mais importantes dramaturgos da geração a seguir à minha, ou será da geração a seguir a essa ainda? Também ele escreveu uma trilogia de peças: A Trilogia de David Hare. São muito apreciadas. Também escreveu e dirigiu os seus próprios filmes. O primeiro de todos – Weatherby – tem uma cena curiosa. Vanessa Redgrave está à janela, a olhar para o céu – penso que é uma janela e que ela está a olhar para o céu – com características que encaixam vagamente num ar de reflexão. Ela olha para reflectir em algo da mais profunda importância. Esperamos, sentindo que vai ser algo intrépido e corajoso. Do resultado da sua meditação sai algo deste género: “porque será que,” pergunta em voz alta não sei bem a quem, “quando um judeu conta uma anedota de judeus, isso se considera humor judaico, mas quando outra pessoa o faz dizem que é anti-semitismo?” Para a maior parte das pessoas razoáveis isto pareceria não só ser uma pergunta razoável, mas também uma pergunta cuja verdade salta pelos olhos dentro, não necessitando de resposta. Com toda a certeza que o senhor Hare e Miss Redgrave a consideram incontroversa, uma vez que as deixam palavras flutuar para fora da janela, deslizar suavemente como verdades que são até ao inconsciente dos gentios que estão no público que não podem deixar de, em silêncio, concordar com a cabeça. Não há qualquer outra personagem à vista que desafie este pensamento. Deve ser profundamente satisfatório para muita gente; haverá vizinhos que se viram uns para os outros, sorrindo os seus sorrisos simpáticos: “E não sabemos nós que é assim?” e “Não pensámos já isto muitas vezes?” e “Até que enfim que alguém disse isto em voz alta! Ah...”
Também eu sorri na altura, e o meu sorriso, tal como outros no público, foi um sorriso de reconhecimento. Se bem que eu tenha reconhecido outras coisas. Perdoe-me, senhor Hare, mas roubei as suas palavras. Estão na minha peça Quando Deus Quis um Filho. Essa peça, sobre a eternidade do anti-semitismo, constrói-se num casamento desfeito entre um judeu e uma gentia e o efeito que isso tem na única filha do casal, que está a ter dificuldades em afirmar-se como stand-up comedian porque não consegue decidir como quer que o seu humor seja e este parece acabar sempre por assumir um tom judaico, ácido e bastante intelectual. A mãe dela tem dificuldade em pronunciar a palavra “judeu”. Os judeus confundem-na. Foi por isso que se separou do seu marido judeu que passava o tempo a argumentar e a falar e tinha imensas ideias incompreensíveis sobre a linguagem. O marido regressa inesperadamente... tentando, de forma absurda, convencer a mulher de quem está separado a investir num dos seus projectos linguísticos de procura da verdade. O humor torna-se um tópico de conversa. A mulher proporciona a meditação Hare-ística:
"MARTHA – E porque é que, pergunto-me, quando um judeu conta uma anedota de judeus dizem que é humor judaico, e quando outra pessoa o faz dizem que é anti-semitismo?
JOSHUA – Porque quando um judeu conta uma anedota de judeus é humor judaico mas quando outra pessoa o faz é anti-semitismo."
De volta aos vizinhos
No entanto, no princípio não senti nada deste anti-semitismo disfarçado. A jovem e abandonada Lil Gammer, cujas formas percebi por baixo do fino vestido de algodão, dominou a minha puberdade. Fantasiei ter sido seduzido por ela. Ao mesmo tempo, a minha mãe, dividida entre o dever da boa comunista de amar e admirar a classe trabalhadora e o seu congénito ódio por esses perpetradores de progroms, queixou-se baixinho ao longo dos anos da falta de solidariedade dos Gammer, que lhe baralhava as lealdades e me comunicava a ideia de que eram a personificação da frieza gentia dos britânicos – pouco expansivos, empertigados, controlados, pedindo pouco, dando pouco e desprezando os estrangeiros. A efusividade da minha mãe embaraçava-os. Os nossos animados tópicos de conversa, as nossas discussões apaixonadas, a música clássica do rádio ou do gramofone ouvida através as paredes – não muito alto, tínhamos sempre cuidado – os numerosos amigos e famílias cujos pés passavam pela sua porta a caminho da nossa, tudo isto deve ter-lhes parecido incompreensivelmente irritante, inflamando a sua opinião de que era indesejável ter estrangeiros entre si. Nós éramos estrangeiros, e além do mais bem-dispostos... o que tornava tudo pior.
Um dia, a minha mãe contou-nos uma história do motorista Bil Gammer que de forma clara, nítida e, pela parte que me toca, irremediavelmente, resumiu a sua mentalidade:
"... Escuta, vou contar-te uma história. Na porta a seguir à minha, na porta a seguir ao sítio onde eu vivo há um motorista de autocarro. É de Hoxton, tem a minha idade, casado com dois filhos. Diz-me bom-dia, eu pergunto-lhe como está, dou rebuçados aos filhos dele. É a relação que temos. Não sei porquê, mas parece que ele tem medo de dizer de mais, sabes? Deus me perdoe de lhe pedir o que quer que seja! Não fazemos exigências um ao outro. Então, um dia, os tipos dos autocarros entram em greve. Ele ficou parado durante cinco semanas. Todas as manhãs, passo por ele e digo “Continua, amigo, força, vão ganhar.” Todas as manhãs o encorajo; digo-lhe que compreendo a causa deles. Tenho de me levantar mais cedo para vir para o trabalho, mas não me importo. Somos vizinhos. Somos os dois trabalhadores, ele fica content e. Então, um domingo, há uma marcha pela paz. Não penso que sirva de grande coisa mas vou, porque neste mundo um homem tem de mostrar que tem qualquer coisa a dizer. Na manhã seguinte, ele chega ao pé de mim e diz - e agora ouve isto –, pergunta-me “ontem foste àquela marcha pela paz?” E eu digo que Sim, fui à marcha pela paz ontem. Então ele vira-se para mim e diz, “Sabes que mais? Deviam ter deitado uma bomba em cima daquela malta toda! Foi uma pena,” diz, “que tivessem crianças lá com eles porque deviam ter largado uma bomba em cima daquela malta!” E sabes o que é que o estava a chatear? A marcha tinha cortado o trânsito e os autocarros não conseguiam andar! Ora eu não quero que ele diga que tenho razão, não quero que concorde com o que eu fiz, mas o que me apavora é que ele nem parou um instante para pensar este homem ajudou-me na minha causa por isso talvez, só talvez, haja qualquer coisa na causa dele. Vou falar com ele. Não! Os autocarros tiveram de parar por isso, ele diz larga uma bomba, em cima daquela malta! E devias ter visto o ódio nos olhos dele, como se eu lhe tivesse assassinado o filho. Um animal, era o que ele parecia. E o horror é que… é que há um muro, um grande muro entre mim e milhões de pessoas como ele. E eu penso… onde é que isto vai parar? O que é que se faz? E olho à minha volta, na cozinha, nas fábricas, nos malditos enormes edifícios que se erguem com todos aqueles escritórios e toda aquela gente lá dentro e penso, Porra! Penso, porra, porra, porra!” [PAUL, A Cozinha]
Quando penso nas classes trabalhadoras inglesas, não consigo evitá-lo, lembro-me dos Gammer: incultos, intolerantes, impiedosos, velhacos, não inspirando a mínima confiança.
Esta ambivalência em relação às classes trabalhadoras fervilha como sinais de perigo em todas as minhas peças.
[…]
No meu espírito não resta a mínima dúvida de que esta profunda ambivalência tem raízes naquela relação com os nossos vizinhos, os Gammer, e que se foi alimentando com variados conhecimentos da escola, da construção civil em que trabalhei como ajudante de carpinteiro e de canalizador, mais tarde da Força Aérea e, mais tarde ainda, das cozinhas de Norwich, Londres e Paris. Talvez não fosse então de admirar que em Junho de 1970, o dramaturgo John McGrath, numa crítica a Os Amigos para o efémero semanário Black Dwarf tivesse terminado desta forma:
"O que ele [Wesker] não deve fazer é iludir seja quem for, incluindo a si próprio, fazendo crer que é de alguma forma socialista, ou que as suas peças têm a mais pequena relação com qualquer tipo de teatro socialista."
Quanto Ouso - Capítulo Quatro
Os meus pais conheceram-se no emprego: ambos trabalhavam à máquina na área das confecções, ambos cantavam no coro de uma organização socialista sionista chamada Poale Zion e casaram-se no dia 27 de Novembro de 1923. No dia 27 de Agosto, nove meses depois, nasceu a minha irmã Della.
O East End fervilhava de actividade. As vidas colidiam nas fábricas clandestinas, grupos políticos, associações culturais de trabalhadores, clubes de jovens, esquinas das ruas. Os judeus dominavam a zona, e a geração antes da minha vivia vociferante, argumentativa, emotiva, com uma espécie de desespero. O medo das perseguições estava latente. Não havia camponeses analfabetos a embebedarem-se e a armar confusão mas em todas as esquinas existia um bar – nunca se sabia que embriagadas fúrias de frustração iriam sair deles. Os judeus têm uma saudável crença de que a vida lhes foi concedida para viverem aqui e agora nesta terra. Está bem enraizado na percepção judaica um profundo cepticismo quanto à outra vida. Sabem que as promessas do paraíso encorajam sacerdotes sem escrúpulos a intrujar os crédulos em seu proveito – os judeus não se deixam enganar! Para além disto, possuíam grande vontade de viver e o desejo de experimentarem na totalidade tudo o que a bondade de Deus lhes tinha concedido. A Inglaterra era livre como mais nenhum sítio, todas as energias eram libertadas – as boas e as más: o explorador e o explorado, o rico e o pobre, o letrado e os de vistas estreitas.
[...]
As minhas recordações mais antigas do pequeno apartamento alugado nos Rothschild’s Buildings são da Tia Sara a contar histórias do sindicato, muitas vezes sobre o sr. Fine, o seu superior no sindicato, com quem discutia permanentemente: “Então o Fine disse isto... e eu disse ao Fine...” Uma figura pouco nítida que acabei por vir a conhecer quando ele se reformou e eu fui convidado de honra no seu jantar de despedida, mas cujo real papel no quadro geral só vim a compreender quando li East End Jewish Radicals, 1875-1914 do Professor William Fishman.
J.L. Fine foi o dirigente sindical que, em 1912, convenceu os trabalhadores das confecções a pararem o tempo suficiente para ganhar uma greve que lhes permitiu fundarem um sindicato unido de trabalhadores de confecções. Um aspecto ainda mais extraordinário dessa greve, foi o papel desempenhado por um tal Rudolph Rocker, um anarquista alemão, gentio, que veio para Londres e aprendeu iídiche sozinho para poder ajudar a organizar os trabalhadores judeus imigrantes que encontrou a viver em condições de grande dureza e depressão. O protegido de Rocker era J.L. Fine. Quando Fine estava prestes a conceder a vitória aos mestres alfaiates, Rocker insistiu para que aguentasse mais um dia. Ele assim o fez. O Sindicato dos Trabalhadores de Alfaiataria e Vestuário nasceu e, muitos anos mais tarde, a Tia Sara tornou-se uma das suas organizadoras mais coloridas, respeitadas e temidas por alguns.
Rocker não foi a única personalidade carismática do East End. O clima político e cultural em que os meus pais se viram, que os alimentou e, por intermédio deles, me alimentou a mim mais tarde, era formado por uma série de personalidades.
[...]
“Como acontece com muitas mulheres, ela casou com o homem errado” – de A Visita
O meu pai e a minha mãe não foram feitos um para o outro. Há quem diga que não somos feitos para ninguém. Encontramo-nos e depois dos dias tranquilos do amor e rosas, muito simplesmente, habituamo-nos uns aos outros. Ou não. Os meus pais não se habituaram.
[...]
As águas traiçoeiras do amor e casamento ocuparam muito da minha escrita: a triste e amarga relação dos meus pais ficou registada em Canja de Galinha com Cevada; no desenlace explosivo de A Cozinha, quando a amante casada da personagem Peter, finalmente, recusa o seu convite para fugirem juntos; Dobson, o amigo cínico em Falo de Jerusalém, conta a saga de dois casamentos desastrosos; As Quatro Estações – dedicada na sua totalidade à recriação de um amor apaixonado que corre mal.
[...]
Será que tudo isto radica no facto de ter crescido com pais que discutiam? Bem, para ser judeu, sim e não. O que é uma forma de dizer talvez. Ou... vida nenhuma é tão simples. Della diz-me que eu era uma criança turbulenta e obstinada. Atribui isso às discussões deles. “Eram inconsequentes, baralhavam-te.” Ela acredita que existe um padrão na minha vida que repete as incongruências deles. Eu não aceito isto. A contradição e o paradoxo assaltam-me tal como assaltam a maior parte das pessoas mas eu assumo a responsabilidade da pessoa que sou e julgo que as discussões dos meus pais contribuíram apenas para uma parte desse padrão. No fim de contas, eles tinham sentido de humor. Não herdei isso? Ambos eram animados... e também herdei essa característica.
[...]
Uma das minhas teorias quanto à arte é que ela lida com aquilo a que chamo “verdades secundárias” por oposição a verdades “primárias” ou “absolutas”. Não há uma verdade absoluta no que se refere à natureza do amor, das mulheres, da felicidade, do que quer que seja. Os poetas escrevem canções diferentes sobre cada uma, e cada uma está certa para alguns de nós, para alguns de vez em quando e para alguns só em determinadas alturas.
[...]
Porque casaram então, Leah e Joe? A opinião das minhas tias Ann e Sara era que ela tinha pensado que seria capaz de o mudar. Afirmam tê-la avisado do seu comportamento indolente e irresponsável. Ela ignorara os seus avisos: que ficasse com as consequências! Correu mal desde o princípio. Ele deixou-a ao fim de poucos meses de casamento.
[O pai de Wesker esteve preso, por queixa da mãe, por não pagar a pensão devida aos filhos. Ela teve de recorrer à Assistência e por várias vezes empenhou a mobília para conseguir dinheiro para pagar as contas. Indisciplinado e irresponsável, Joe nunca conseguiu manter uma vida estável.]
[...]
O sexo nas minhas peças
Em 1978, uma actriz comentou que não havia nem sexo nem violência nas minhas peças. Era verdade - com a excepção do final violento de A Cozinha, o espancamento de uma velhota em Os Velhos e as referências ao ”amor durante a tarde” em Raizes. Tinha começado o meu “período pornográfico”.
Caracterizo a pornografia como “erotismo sem arte”. Os filmes pornográficos excitam mas acabam por ofender devido ao aspecto miserável, falta de subtileza, representação rígida e pobreza de enredo, personagens e texto. Talvez o mais ofensivo seja o tema único: filmar o coito aborrecido e repetitivo. A questão que ponderei foi a seguinte: Se estimular as pessoas para que pensem, sintam, riam, chorem e, até mesmo, ajam nas suas vidas é uma função válida da arte, poderemos negar-nos à estimulação de um dos mais vitais e irresistível impulsos – o impulso sexual? Ou, se encaramos a arte como um registo, um testemunho, poderemos evitar a paixão, a dor, a beleza, a comicidade, a variedade mutável e perversa do desejo e da sua satisfação no registo literário do comportamento humano? Em duas obras tentai tratar o tema do sexo tal como tratei a desilusão política, a descoberta do eu, o amor, a velhice e o confronto com a morte.
[One More Ride on the Merry-Go-Round e Lady Othello – ambas foram fracassos.]
Talvez, tal como acontece com a emoção nas minhas peças, o sexo fosse demasiado cru. Ou demasiado irreverente. Os ingleses entusiasmam-se com humor de casa-de-banho, como o de Joe Orton, ou o asinino dos filmes Carry On, ou com troça básica. A combinação de humor com intelecto parece ter morrido com Shaw. Tom Stoppard é a excepção. Mas este rapaz, com a língua na bochecha, não consegue agradar. Havia uma imagem mal entendida desde o início, que congelou. Espera um bocadinho de incitamento caloroso para derreter.
[...]
A Guerra
Quando rebentou a guerra, no dia 3 de Setembro de 1939, a maior parte das crianças foi evacuada juntamente com as da sua escola. Eu não. A minha irmã estava demasiado ansiosa para me deixar separar-me dela. Arranjou maneira de eu ser despachado juntamente com A Escola de Meninas da Fundação de Spitalfields Central e enviado para Ely, nos Fens. A minha mãe conta uma história de como, quando estavam a reunir umas crianças na estação da Rua Liverpool, com os casacos apertados, barretes, máscaras de gás em caixas de cartão ao ombro, malas enormes nas mãos, excitado com tudo aquilo, um professor disse aos aflitos pais: “Bom, digam-lhes adeus. Podem nunca mais os ver!”
[...]
Porque será que não sinto o menor desejo de pormenorizar a guerra, o tempo entre os meus sete e treze anos? Só me ocorre uma sucessão de imagens e de sons: o som assustador da sirene dos ataques aéreos, o seu grito lamentoso, o seu aviso sobe-e-desce de que os bombardeiros alemães vinham aí para nos matar. Era um som aterrorizador que crescia num rugido de uma nota grave e crescia até se transformar numa ameaça esganiçada que aumentava e diminuía mandando-nos andar depressa senão... Durante muitos anos o meu coração saltava a cada som que se parecesse com aquele. O final de cada ataque era assinalado por um zumbido forte, numa nota só: Está livrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrre! Della recordou-me que, nos primeiros dias da guerra, nos mandaram para Adelaide, mesmo junto a Ely.
[...]
Respondi-lhe que me lembrava de ter olhado pela janela e visto as estrelas pela primeira vez e aranhas; que aprendi a andar de bicicleta em Ely e que os Carver me batiam nas mãos se eu não baixasse a faca e o garfo depois de levar a comida à boca.
[...]
Pensara-se que Londres, em especial o East End com as suas docas, portos e caminhos-de-ferro seria bombardeada de imediato. Colocaram-se baterias anti-aéreas em espaços abertos [...] Balões de intersecção vogavam no ar, na esperança de deter os aviões inimigos quando as asas se enredassem nos seus cabos. Pendurámos e prendemos cortinas pretas para esconder a luz. Vigilantes dos ataques aéreos – o meu pai era um deles – com capacetes de aço e longos e deselegantes casacos compridos azuis oficiais, andavam pelas ruas gritando “apaguem a luz!” e todos corríamos para verificar as nossas janelas. Dedos de luz vasculhavam o céu devagar, ondulando, fazendo círculos, avisando o inimigo para se manter afastado. Ele obedeceu. Durante um ano. Razão pela qual a maior parte dos evacuados regressou a casa e eu pude testemunhar o primeiro bombardeamento, no dia 5 de Setembro de 1940, quando a Luftwaffe alemã enviou sessenta e oito bombardeiros, logo seguidos, no dia seguinte, por mais duzentos. A noite seguinte troou com os roncos dos motores de trezentos e vinte bombardeiros e seiscentos caças. Foi assim durante cinquenta e sete noites seguidas. O fogo grassava, casas, edifícios e monumentos foram estilhaçados, impotentes carros de bombeiros gritavam ao longo das ruas, numa luta insana. Doze mil pessoas foram mortas, vastas áreas da cidade arrasadas. Vidas, lares e história perdidas em nome da causa ariana.
[...]
Os Rosenberg...
Nos Estados Unidos, em 1953, Julius e Ethel Rosenberg foram executados na cadeira eléctrica, sob a acusação de crime de espionagem a favor da União Soviética.
Ocorrido durante à caça às bruxas do McCarthismo, em plena Guerra Fria, foi um caso que mobilizou o interesse de milhões de pessoas. O julgamento foi seguido (e discutido!) atentamente.
O casal foi preso em 1951, o julgamento e sentença decorreram durante o ano seguinte, tendo sido executados dois anos depois. Julius tinha 35 anos e Ethel 37. Eram pais de duas crianças pequenas.
Vivia-se em pleno pós-Guerra, a União Soviética fizera detonar a sua primeira bomba atómica em Agosto de 1949 e os Rosenberg foram acusados de terem passado segredos científicos aos comunistas, no que J. Edgar Hoover classificou de “crime do século”. Apesar de formalmente serem aliados, EUA e URSS estavam envolvidos numa corrida às armas e numa caça aos espiões, marcadas por incidentes e detenções variados ao longo de muitos anos.
Após a condenação, foi lançada uma campanha para salvar as suas vidas, campanha que durou dois anos. Sem sucesso. Como não obtiveram sucesso as várias iniciativas, junto dos vários tribunais. O Supremo chegou a reunir para apreciar um indulto, mas o casal foi executado na mesma noite da reunião: 19 de Junho de 1953.
Sabe-se hoje que, pelo menos Ethel, não era de facto culpada mas as autoridades terão querido exercer pressão sobre o marido.
A execução não decorreu com normalidade. Julius foi morto primeiro e quando Ethel, depois de terem retirado o corpo dele, se sentou, não conseguiram matá-la à primeira. O carrasco teve de accionar o interruptor cinco vezes, uma vez que o capacete a que os eléctrodos estavam ligados era demasiado grande para a sua cabeça.
Ainda hoje, mais de 50 anos passados, se discute este julgamento, as circunstâncias em que decorreu e o resultado. As opiniões não são unânimes.
Pena de morte e legislação
MAX [para FRANK] - Achas que a lei passa?
FRANK - Como queres que eu saiba? Talvez valha a pena tentar."
A pena de morte manteve-se para crimes de traição e pirataria com violência durante mais algum tempo, tendo sido abolida em 1998. No entanto, as duas últimas execuções relacionadas com este tipo de crime aconteceram em 1946.
Em 1999, o Ministro da Administração Interna ratificou o 6º Protocolo da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, e aboliu formalmente a pena de morte no Reino Unido, assegurando-se de que não pode ser reintroduzida.
A abolição da pena de morte foi uma prioridade do governo trabalhista de Harold Wilson, que assumiu o poder em 1964, e do seu primeiro ministro da Administração Interna, Sir Frank Soskice.
As duas últimas execuções ocorreram em simultâneo, às 8 da manhã do dia 13 de Agosto de 1964, nas prisões de Walton (Liverpool) e Strangeways (Manchester), quando Peter Anthony Allen e John Robson Walby foram enforcados pelo homicídio de John West, trabalhador de uma lavandaria, que assassinaram durante um assalto.
segunda-feira, 26 de março de 2007
Insultos...
Encontramos uma definição do termo em Songs and Slang of the British Soldier: 1914-1918, obra publicada por John Brophy e Eric Partridge, em 1930.
A palavra foi usada pela primeira vez na expressão tête de boche. O filólogo francês Albert Dauzat acreditava que boche era uma forma abreviada de caboche, um termo de troça em calão para “cabeça humana”, com o significado de “palerma”, “idiota”, “cabeça dura”.
Em francês, uma das formas de se dizer “ser obstinado, ser casmurro” é avoir la caboche dure. A raiz do termo caboche na antiga província francesa da Picardia é a palavra latina caput ‘cabeça’.
Como designativo de pessoa teimosa, sabemos que tête de boche era usado em 1862. A expressão está impressa num documento publicado em Metz. Em 1874, os tipógrafos franceses aplicaram-na aos compositores (de tipografia) alemães. Em 1883, afirma Alfred Delvau em Dictionnaire de la Langue Verte, a expressão já tinha adquirido o significado de mauvais sujet (mau sujeito) e era usada em particular, pelas prostitutas.
Os alemães, gozando entre os franceses da reputação de serem obstinados e más pessoas, acabaram por ser conhecidos por uma palavra de troça, formada a partir de allemand, nomeadamente, allboche ou alboche. Em 1900, o termo foi encurtado, passando então a boche como termo genérico designando os alemães. Durante a Guerra, os cartazes de propaganda recuperaram o termo, ao utilizar a expressão sale boche (maldito alemão).
Nova Iorque...
Mesmo assim, aqui fica Coney Island, em 1906, uma península (outrora ilha e daí o nome) no sul de Brooklin, em Nova Iorque, que tem um grande parque de diversões, sendo por isso, extremamente popular.
Doce ou salgada...
Página 33 - "PAUL - Desapareceram todos... Ainda tenho tarte de ontem."
Sem perder vitaminas...
Bem seco...
Espalmados e saborosos...
A solha e o linguado são, aos olhos dos leigos, dois peixes quase iguais. Ambos pertencem à ordem dos teleósteos, categoria dos Pleuronectiformes [que nadam de lado], mas apresentam algumas diferenças. São ambos pelágicos, ou seja, flutuam no meio da massa de água mas pertencem a famílias diferentes. A solha pertence à família dos Soleidae e o linguado à dos Scyaciae.
Os Pleuronectiformes possuem uma peculiaridade que os torna diferentes dos restantes peixes: as larvas apresentam simetria bilateral, mas os juvenis, depois de sofrerem uma metamorfose, são assimétricos relativamente à posição dos olhos, à forma das escamas e à coloração corporal. No caso da solha, ambos os olhos ficam no lado esquerdo do corpo, que também é conhecido como "lado-ocular" e corresponde ao lado do corpo virado para cima quando o peixe se encontra sobre o fundo. Os olhos podem-se elevar, baixar e movimentar independentemente um do outro, à semelhança, por exemplo, do camaleão.
O linguado é um peixe chato, de formato oval, com um lado castanho e outro branco, que habita praticamente em todos os mares.
Já os gastrónomos romanos colocavam o linguado num pedestal, tal como Luís XIV que, séculos mais tarde, o considerava um "prato real". Esta preferência unânime resulta da delicadeza da carne - magra, alva e sem espinhas - que possibilita diversas criações culinárias: dos linguados pequenos e médios, simplesmente fritos ou grelhados, aos exemplares grandes, apropriados para rechear, culminando nos pratos de filetes (rolinhos, estufados, gratinados ou com os molhos mais variados).
O único senão do linguado é, sem dúvida, o seu elevado preço, restando, no entanto, a hipótese de substituição por parentes próximos mais económicos, como a solha ou o pregado.
Da família dos peixes espalmados – linguados, pregados e afins – a solha é um peixe de carne branca, macia e húmida e de sabor delicado. É também bastante mais acessível quer no preço quer na facilidade de compra, que os demais congéneres. Espécie bentónica (dependente do fundo), vive principalmente em substratos arenosos, os jovens junto à costa e os adultos entre 15 m e 50 m de profundidade. Apresenta manchas arredondadas, vermelhas ou alaranjadas. Apresenta uma longevidade grande, chegando a atingir cerca de 50 anos.
Muito elaborado...
Esticadinhos e lisos...
Pratos quentinhos...
quinta-feira, 22 de março de 2007
Arnold Wesker em meia dúzia de palavras...
Muito cedo se dedica a variados empregos antes de se consagrar ao teatro e à escrita.
Durante os anos 50 é Chefe Pasteleiro no Boulevard des Capucines, em Paris e consegue estudar cinema com o dinheiro economizado em França. Argumentista e realizador de cinema, escreve mesmo assim para o teatro, um primeiro esboço de A Cozinha.
Durante os anos 60, a sua trilogia, Canja de Galinha com Cevada, Raízes e Falo de Jerusalém é levada à cena pelo Royal Court Theatre.
É uma saga de uma família de gente modesta, judeus, desde a Guerra de Espanha até à insurreição húngara de 1956.
Wesker interessa-se em especial pela relação entre o público popular e o teatro e, em 1961, cria o Centro 42, com a missão de manter uma actividade de criação e de sensibilização: pretende reconciliar os jovens e o povo com as disciplinas artísticas que lhes dizem respeito.
Arnold Wesker festejou há pouco tempo o seu 70º aniversário, um acontecimento em Inglaterra. É representado no mundo inteiro. Um pouco menos em França. Deixa uma obra dramática considerável: mais de 60 peças.
http://www.chefsimon.com/wesker.htm, consultado em 20/3/07
Arnold Wesker – um escritor que se preocupa desesperadamente...
O que, perguntava, poderia conseguir-se de útil em apenas três dias?
Mas acabou por vir, por amizade, e muito rapidamente começou a preocupar-se em alcançar qualquer resultado. Acabou por fazer uma das mais importantes contribuições do colóquio. O seu epílogo à Declaração de Esch é já familiar aos leitores.
...mas primeiro, uma introdução.
Arnold Wesker, nascido no East End, em Londres em 1932, é sem dúvida o dramaturgo britânico mais importante da sua geração. A Trilogia Wesker teve um impacto imenso no teatro britânico quando produzida como entidade única no prestigiado teatro de vanguarda Royal Court, em Londres, em 1960.
Em Março de 1968, o público do teatro de Esch ficou assombrado com a produção de A Cozinha de Ariane Mnouchkine, um empolgante confronto entre um conteúdo realista e uma forma estilizada.
Wesker combina um idealismo social enérgico – fundou o Centro 42 para servir de veículo de expressão social e cultural, e dirigiu-o entre 1961 e 1970 – com a perspectiva do estranho. O seu trabalho reflecte uma crença e compromisso com os valores humanos, tanto a nível individual como social.
“Preocupar-se” é uma noção-chave em Wesker... como demonstra a explosão apaixonada de Sarah no final de Canja de Galinha com Cevada: “Tu morres, tu morres... se não te preocupas, morres!”
A ideia de preocupação exprime a dupla definição da tarefa humana para Wesker: preocupar-se com o outro nas relações pessoais e preocupar-se com a sociedade como um todo. Cada vez mais a última significa estar vigilante, cuidando para que os nossos destinos políticos estejam protegidos dos “oportunistas” que explorariam qualquer fraqueza para tomarem o poder.
Wesker acredita apaixonadamente na necessidade de educação, tanto como veículo de melhoramento pessoal e social, como forma de afastar os piores desastres que caíram sobre as minorias ao longo da História e que radicam na ignorância, no preconceito e no medo.
As suas Peças para Uma Mulher – a sua própria interpretação de Annie Wobbler valeu-lhe uma ovação de pé em Esch, no dia 14 de Novembro de 1989 – coloca-o na primeira fila dos escritores “feministas”. É de uma sensibilidade rara, combinando a intuição pessoal com um omnipresente sentido de justiça social. Wesker nunca sacrifica a complexidade da personagem individual a uma “mensagem” social, mas, no entanto, está sempre consciente das relações sociais que também definem o indivíduo.
O seu trabalho sobre O Mercador de Veneza de Shakespeare, agora significativamente intitulado Shylock, substitui a responsabilidade do indivíduo, que é livre de escolher o sacrifício pessoal como forma de fazer cumprir a Lei, assumindo assim o carácter heróico que o Bardo lhe negou. Há quem pense que a peça de Wesker é a melhor das duas.
Wesker é provavelmente mais apreciado no resto da Europa, onde as suas peças são frequentemente encenadas e muito aplaudidas, do que em Inglaterra, onde foi marginalizado com sucesso por autores que abraçaram causas mais populares do que, por exemplo, a educação, e métodos dramáticos mais espampanantes do que peças infinitamente representáveis e bem carpinteiradas.
Se isto for verdade, é um triste indício do estado da opinião teatral e literária inglesa.
Será tempo de fazer uma reavaliação?
Ariel Wagner-Parker, Phare, Nouvelle série nº 26 – 8.11.1991
http://www.guywagner.net/wesker-e.htm
10/1/2007
Quanto Ouso - Capítulo Um
[...]
Primeira imagem – uma fotografia de escola. A Escola Infantil Judaica, em Commercial Street, Londres E1. Um professor e trinta e duas crianças – vinte e uma raparigas, onze rapazes - olham para a máquina. Só oito raparigas e quatro rapazes arriscam um sorriso. O chão é de soalho de madeira. Um relógio na parede, com números romanos diz que são 2h20 da tarde. Estou sentado na fila da frente, de pernas cruzadas, as mãos pousadas nos tornozelos. Os meus olhos estão abertos, cheios de malícia e inocência fingida. O lado direito da minha cara parece estar inchado. Não fui esmurrado. Tenho a língua na bochecha.
Memórias mais antigas – as irmãs de Joe, o meu pai. Tinha quatro: Rae, Sara, Billie e Ann. Amava-as e elas preocupavam-se comigo. Rae morreu em 1976 e as suas cinzas estão enterradas num cemitério judaico, cheio de lápides. [...] Sara [...] morreu em 1971 e as suas cinzas estão por baixo de uma árvore no jardim de casa da minha irmã, em Norfolk. Ann morreu em 1992 e as suas cinzas estão enterradas debaixo de um rododendro vermelho no jardim da minha casa na Gales. Quando comecei a escrever este livro, Billie estava num lar, a viver com sofrimento os seus anos finais de demência senil. Morreu por volta da página 300, no dia 8 de Outubro de 1993. Em 1979, gravei uma conversa com a Tia Annie em que lhe fiz perguntas acerca da minha mãe, durante a juventude. “Ach!” respondeu, “para que é que queres recordar? Seria demasiado doloroso.” Porquê? O que haveria acerca da minha mãe enquanto jovem que me magoasse? A Tia Annie foi muito evasiva.
[...]
Della, a minha irmã, oito anos mais velha do que eu, cuidou de mim mas deixou-me cair de cabeça para baixo quando tinha cerca de dezoito meses. Ainda se vê a cicatriz. Estava a baloiçar-me nas pernas, como tinha visto a nossa mãe fazer, com as mãos por baixo da minha cabeça. Torci-me e escorreguei-lhe das mãos. Por cima da minha berraria, ela gritava: “Eu estava a segurar-lhe a cabeça! Eu estava a segurar-lhe a cabeça!” Quando a interroguei em 1979, recordou-me que eu era uma criança incontrolável. “Partiste as barras da tua cama para saíres. A verdade é que ninguém conseguia controlar-te excepto eu. Tínhamos uma boa relação. Tu ouvias-me...” Anos mais tarde, ela corrigiu o mito de me ter deixado cair de cabeça para baixo. “Segurei-te. Tu gritaste, eu fiquei assustada, mas não caíste no chão.”
- Então de onde vem a minha cicatriz?
- Não sei. Tiveste uma verruga, o médico tirou-ta e deixou a cicatriz... – Prefiro a história de ter sido deixado cair ao chão. Parece justificar muita coisa.
[...]
A Tia Ann relembrou-me o que eu já sabia, que a minha mãe tinha tido um segundo filho, que teria sido meu irmão, por volta do final de Janeiro de 1925. “Mas quando tinha seis semanas, levaram-no para o Hospital de Londres, onde morreu de meningite. O meu pai [o avô de Wesker] tratou dos preparativos do funeral.”
[...]
Fiz-lhe perguntas sobre o meu avô.
- O teu Zeyda (“avô” em iídische) era um alfaiate do exército quando sargento na Rússia. Fora do exército era alfaiate geral. Ajudou a fundar um dos primeiros sindicatos. Mas o seu coração não se sentia atraído para a arte do alfaiate, antes para o canto. O pai dele morreu quando ele era muito novo, e por isso teve de ser alfaiate. O meu pai transmitiu a sua bela voz de canto à Sara, ao Joe [pai de Wesker] e à Rae. A mim não. Não consigo grasnar uma nota. Era um estudioso do Talmude, o meu pai. Além de ter uma linda voz, era um estudioso do Talmude. Significava muito para ele.”
A minha mãe, Leah Wesker, Perlmutter de solteira, nascida em Gyergószentmiklos, na Transilvânia, no dia 28 de Julho de 1898, uma de onze irmãos, chegou a este país com onze anos. A primeira das mulheres fortes. No dia 2 de Março de 1948, com 50 anos, escreveu uma carta que nunca mandou. [...]
Meus Queridos Filhos,
Nada pior do que estar sozinha.
Sempre me deixaram sozinha. Não estou a ser melodramática, como diria a minha filha.
Foi sempre a minha fraqueza, nunca suportei a solidão.
Desde o final da minha infância, sempre gostei de estar com muita gente. O meu marido muitas vezes me deixou, durante os dolorosos anos do meu casamento, e o que me fez voltar para ele, de cada vez, foi o estar sozinha. Não há razão para me aborrecer agora, o meu Arnold foi-se durante apenas uma semana, para casa da minha filha, mas não suporto afastar-me dos meus filhos.
Chove e está um tempo miserável, acabei de chegar do trabalho e sinto-me terrivelmente deprimida. É sempre assim, especialmente hoje.
Vou sentir-me muito melhor quando receber um telegrama, a dizer que chegaram sãos e salvos.
O meu pai, Joe, odiava o seu trabalho a coser à máquina para um alfaiate. Estava mais vezes em casa do que no emprego, preferindo enterrar a cabeça num livro. Tal como o meu pai, muitas vezes prefiro ler a escrever. Uma das fantasias que tenho é a seguinte: se ficar rico vou fazer uma licenciatura em filosofia, ou em história dos judeus ou história das ideias.
A minha mãe era baixinha, tinha cerca de 1,50m. [...] Era bonita e impetuosa e reservava o seu mau feitio para comportamentos horríveis – da irresponsabilidade do meu pai até à dura indiferença de patrões exploradores, da má-criação à arrogância, das mãos brutais às palavras brutais. Mas tinha um sorriso doce. Era ternurenta e carinhosa.
O meu pai não era muito mais alto; moreno, bem-parecido, de testa alta e olhos castanhos, pensativos. O seu limiar de tolerância para com os idiotas era muito baixo. Nascido senhor de uma inteligência natural, detectava o pensamento desleixado, a frase irreflectida e oca. Adorava a companhia e a conversa, e se bem que fosse ternurento como a minha mãe, sentia mais necessidade de ser amado do que de amar.
[...]
Entre os papéis da minha mãe estão uma série de extraordinários gatafunhos e rabiscos [...] Em conjunto com os seus escritos falam de um genuíno e poderoso impulso criativo que é negro e doce e brincalhão. Se bem que sem lado negro, o meu pai era também doce e brincalhão. Como é que duas pessoas tão doces conseguiram fazer-se mutuamente tão infelizes? Tragédia sua, minha herança.
(Pp. 1-6)
quarta-feira, 21 de março de 2007
Quanto Ouso - Introdução
Introdução
“O que significa o título? Quanto Ouso. Tudo o que ousei e não ousei na vida? O que ouso revelar do que ousei fazer? O que ouso revelar da vida dos outros? Quanta recriminação ouso acumular sobre as cabeças dos que, em altas posições, se portaram com desonestidade, traiçoeiramente e de forma cobarde? Aqui falamos tanto da privacidade como da reputação de terceiros e da urgência de vingança, da tentação de perpetrar animosidades profissionais numa altura em que eu ainda necessito de apoio profissional. Não é sensato!
Talvez o início de cada autobiografia deva afirmar o que não vai afirmar para impedir que o leitor acalente falsas esperanças. Terá então este um livro alguma dose de confissão privada mas não revelará tudo; incluirá poucas bisbilhotices teatrais e só um toque de malícia – para isso, o leitor terá de se virar para uma mentalidade mais teatral. Não é possível proteger os sentimentos de todos os que me estão próximos, mas o respeito será mantido e, se alguém ficar mal no retrato, serei eu.
Estou interessado, acima de tudo, naqueles pormenores da vida que eu acho terem dado corpo às minhas peças e histórias. Inevitavelmente, farei muitas referências a esses pormenores e utilizarei – desde já preparo o leitor! – cartas e diários para revelar por vezes como, através de uma reconstituição imaginosa, a vida se transmutou em literatura, por vezes porque as próprias obras contêm em si pormenores autobiográficos que apoiam a história, e por vezes porque, nas cartas e nos diários, se recordam mais coisas e com maior nitidez do que consigo recordar.
Os artistas revelam muito de si próprios através do seu trabalho. Não só o que fizeram, como o que gostariam de ter feito; não só o que, por intermédio das suas personagens, declaram pensar mas também, escudados atrás dessas personagens, o que não ousam pensar; não só o que são, como também o que gostariam de ser, ou, muitas vezes, o tipo de pessoa que receiam poder ser.
Quase tudo o que sou – o que temo, penso e sinto – é referido, aflorado, afirmado com clareza no que escrevo. […]
A fama e o sucesso incitam à curiosidade. As autobiografias escrevem-se para satisfazer essa curiosidade e responder a questões simples: que forças e influências se uniram ao longo dos anos para dar forma à personalidade e ao espírito responsáveis por determinadas acções, actos políticos, quadros, peças, composições musicais… a essa vida?
[…]
Vivo só. Isto soa mais dramático do que é na realidade. Na maior parte do tempo, gosto de viver só…
A minha sorte profissional lutou por entre as vicissitudes normais que a fama precoce acarreta. Os volumes de textos – efémeros ou não – são agradavelmente numerosos, prova de que trabalhei! Neste momento, e graças a Deus, não sou o filho favorito do teatro em Inglaterra e fiz uma saudável quantidade de inimigos… ou deverei dizer “uma quantidade de saudáveis inimigos”? Mas se bem que pouco amado, não emudeci e presumo que o meu nome tenha o seu lugar no teatro mundial.
Por isso, vou começar. Não tenho a certeza de que terminarei, mas estou agarrado. Que raio aconteceu? As cartas, os papéis da minha mãe, as histórias, os poemas, os primeiros diários… eu estou por ali, algures. Isto será o mais próximo que irei da terapia. Dizem-me que vai ser uma viagem dura.
Já chorei.
(Pp. xi-xiii)
Há mais na Holanda para além das túlipas...
Este molho, conhecido por sauce hollandaise consiste numa mistura de gema de ovo com limão ou vinagre, manteiga e um toque de pimenta de Caiena. Serve-se com vegetais. É feito em banho-maria e o aspecto mais importante para a confecção do molho com êxito consiste em evitar que a água no tacho exterior ferva, mantendo-se a uma temperatura constante, se bem que quente. Se a água começar a ferver, há que juntar-lhe um pouco de água fria. O molho deve ser servido de imediato. Alan Davidison, um historiador da alimentação, afirma que a referência mais antiga a um molho “hollandoise” data de 1758, e surge na obra Dons de Comus, de Marin. A receita incluía manteiga, farinha, caldo de legumes e ervas. Não levava gemas.
Este molho é muito delicado e difícil de fazer, talhando com grande facilidade. Mesmo assim, se quiserem experimentar, cá vai a receita.
Eire, Ulster e Inglaterra...
KEVIN – Irlanda.”
Desde 1641 que os irlandeses têm, por muitas vezes, tentado ganhar a sua independência da Inglaterra. Divididos em duas partes em 1922, a zona católica – o Eire, que ocupa a maior parte da ilha – tornou-se independente, mantendo-se a zona protestante sob o domínio britânico. Após a 2ª Guerra Mundial também esta zona – o Ulster – se bateu pela sua independência, num conflito que não está ainda pacificado.
Racismo e nacionalidade...
NICHOLAS – O meu país é este.
BERTHA – O teu país é a casa de banho.”
«Mas, ao passo que a maior parte dos seus colegas cipriotas, como Mangolis, é ajudante de cozinha, o temperamental Gaston é cozinheiro – e a primeira briga de que ouvimos falar deveu-se ao facto de Peter lhe ter chamado “cipriota de terceira” [p. 8] no dia anterior. Que Peter se sinta à vontade para lançar tais insultos ao mesmo tempo que reage violentamente ao posterior comentário depreciativo quanto à sua nacionalidade constitui, claro, também um ponto em que a ironia individual contribui para a forma dramática da peça, e é ainda absolutamente típico da confusa mentalidade racista. E há insinuações irreflectidas de inferioridade racial espalhadas por toda a peça… como quando a cozinheira dos Legumes, Bertha, diz ao jovem cipriota Nicholas “O teu país é a casa de banho”, ou quando ele lhe chama “estrangeira” a ela “NICHOLAS [com desfaçatez] – Ela chama-me emigra a mim! Ouçam só...” [p. 15], ou quando o iralndês Kevin reage com surpresa ao facto de Paul ser judeu: “KEVIN [para HANS] – Então aquele é judeu? […] Ora, quem havia de dizer?” (p. 74).
LEEMING, Glenda e TRUSSLER, Simon, “Daily Bread”, in The Plays of Arnold Wesker, Londres, Victor Gollancz, 1971.
Aos saltinhos...
Saltear alimentos consiste em cozinhá-los rapidamente, mexendo com uma colher de pau, numa pequena quantidade de gordura (azeite e/ou manteiga) e num curto espaço de tempo, em lume alto. Em geral, os alimentos são cortados em pedaços pequenos e preparam-se numa frigideira funda, onde caibam à vontade.
Frios e Saladas...
Segundo a professora Paula Lopes da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, o guarde-manger é a zona da cozinha onde se guardam e preparam os alimentos frios ou que são ingeridos em cru, como as saladas.
Batatas militares...
A hierarquia militar quer que PIP venha a ser oficial. Rebelde, ele recusa. Cheios de paciência, os oficiais toleram a sua revolta, esvaziando-a de sentido e acabando por domar o seu espírito.
Quando SMILER, um dos recrutas, é maltratado pelos sargentos, os recrutas revoltam-se. PIP, que acabara de aceitar tornar-se oficial, incita a hierarquia a tolerar a sua revolta tal como tinham tolerado a sua própria, esvaziando assim de sentido a zanga deles.
Os jovens recrutas que tinham começado por ser um grupo confuso e desordenado, acabam como esquadrão organizado, eficiente e muito unido.
Excerto
Algumas críticas
Uma peça que é um desafio lançado para cima do palco. Cheia de fúria, compaixão e implacável…
Kenneth Tynan, The Observer
A primeira peça de que a instituições têm de ter medo….
Harold Hobson, The Sunday Times
terça-feira, 20 de março de 2007
Para esclarecer algumas dúvidas...
Bibliografia - discipina que tem por objecto agrupar textos impressos segundo critérios sistemáticos diversos (cronológico, autoral, temático etc.) visando facilitar o acesso aos mesmos; relação das obras consultadas ou citadas por um autor na criação de determinado texto; b. activa - a que se refere a obras de autoria de determinado literato ou dramaturgo.
E foi o que disse o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Lisboa, Temas & Debates, 2003
segunda-feira, 19 de março de 2007
Vamos montar um restaurante...
Na origem, a minestrone era um prato bastante modesto, no qual se utilizavam, entre outras coisas, restos de legumes cozinhados e de carne, que enchia bastante e era uma forma económica de alimentação quotidiana. Como muitos outros pratos italianos, não seria provavelmente um prato cozinhado de raiz, se bem que isto seja discutível. Dito de outra forma, enquanto que as pessoas matavam um coelho com a intenção de comer um prato de coelho, ninguém reuniria ingredientes com o propósito de fazer uma minestrone. Os ingredientes eram tirados de outros pratos, muitas vezes dos acompanhamentos. Faz parte da cucina povera (cozinha pobre), ou seja, da gastronomia do povo. Não tem receita fixa, variando com a zona onde se faz e a época do ano, uma vez que utiliza agora legumes frescos. Por si só constitui uma refeição. Com o tempo, no entanto, veio a designar um tipo de sopa de legumes cortados, com massa ou arroz, cozidos num caldo.
Existem duas escolas no que toca à data em que a receita da minestrone se tornou mais formalizada. Uma defende que durante os séculos XVII e XVIII este prato surgiu enquanto sopa que utilizava exclusivamente legumes frescos e que era feita de propósito (já não utilizando sobras de outros pratos), ao passo que a outra defende que o prato já era preparado exclusivamente com legumes frescos desde os tempos pré-romanos mas que o nome se perdera, só voltando a surgir associado à sopa durante os séculos XVIII e XIX. A referência mais antiga à palavra data do século XVIII.
Bife Strogonoff
Este receita famosa de galinha ou faisão não teve origem na Ucrância, ao contrário do que sugere o seu nome – Kiev, a capital da Ucrânia. Foi criada pelo francês Nicholas François Appert (1749-1841), cervejeiro, fabricante de pickles e cozinheiro, que descobriu a forma de preservar e enlatar alimentos. A imperatriz Isabel Petrovna (1741-1762) da Rússia apreciava a gastronomia e os costumes franceses, pelo que havia muitos cozinheiros franceses a trabalhar em casa dos nobres russos. O prato também é conhecido por Galinha Suprema e o nome de Kiev foi-lhe atribuído pelos primeiros restaurantes de Nova Iorque, que desejavam agradar e atrair os imigrantes russos.
Os gregos acreditam que a Moussaka foi introduzida no país quando os árabes trouxeram a beringela, se bem que os árabes, em especial os do Líbano, pensem que o prato tem origem grega. Também se encontra na Turquia.
Ninguém sabe a origem da moussaka mas existe uma receita no chamado Livro de Cozinha de Bagdad, um texto árabe do século XIII, que um historiador da gastronomia sugeriu ser a primeira receita deste prato. A receita estará relacionada com o prato árabe musakhkhan, de onde deriva o termo moussaka.
sexta-feira, 16 de março de 2007
Turnos
7ª arte...
quinta-feira, 15 de março de 2007
Futebolês
terça-feira, 13 de março de 2007
Erasmus para cozinheiros...
Pastelices...
Bolo de pastelaria que pode ser recheado de cremes vários e enfeitado com glacé de açúcar - sozinho ou com fruta por cima - ou chocolate. Para quem gosta de se atirar aos tachos, a receita está aqui.
Já agora... e por curiosidade, no original, o bolo chamava-se "Réligieuse". A massa é igual, o feitio e os "enfeites" não.
Comecemos então...
1. Há animais e derivados que não podem ser comidos, de todo. Esta restrição abrange a carne, os órgãos, ovos e leite dos animais proibidos.
2. Os animais permitidos têm de ser mortos segundo regras próprias de abate e limpeza, de acordo com a lei judaica
3. Todo o sangue deve ser escorrido da carne antes de esta ser ingerida
4. Há partes dos animais permitidos que não podem ser ingeridas
5. Fruta e vegetais não têm problema, desde que se verifique que não têm insectos
6. Não se pode comer carne com produtos lácteos (natas, por exemplo). Peixe, ovos, fruta, legumes e cereais podem ser ingeridos juntamente com carne ou lacticínios.
7. Os utensílios com que se prepara a carne não podem ser usados para trabalhar lacticínios e vice-versa. Utensílios que tenham sido usados para preparar comida não-kosher não podem entrar em contacto com comida kosher. Isto aplica-se apenas quando a comida está quente.
Os alimentos que não são kosher contaminam os recipientes e utensílios, pelo que estes não podem ser usados depois para preparar comida kosher.
quinta-feira, 8 de março de 2007
Panorama da Pós-Modernidade...
"Os anos 50 e 60"
1. Introdução
A literatura espelhou este abalo de fundações, com especial violência, no drama. Vários novos dramaturgos viram as suas peças de estreia representadas na segunda metade dos anos 50, e se bem que este autores, em que se incluem Beckett, Osborne, Whiting, Arden, Behan e Pinter, fossem bastante diferentes entre si, quer no conteúdo das suas peças quer nas técnicas que utilizavam, todos se combinaram para quebrar com o drama da comédia da classe mais alta e a fantasia romântica tão completamente quanto Eliot e Fry o tinham feito antes deles – mas de uma forma completamente diferente. O teatro dos anos 50 e 60 explorou ao máximo a reacção artística contra o palco à italiana, o fim da censura teatral, o culto, muito na moda, da comunicação bi-direccional entre actor e público participante, a exigência de que a arte se comprometesse claramente com causas políticas e sociais e o fim das inibições da inocência sexual. Seria fácil exagerar o amplo significado social do que se passa em cima de um palco, que facilmente se dispõe a ser uma estufa para a auto-expressão neurótica e, por isso, as pretensões teatrais de que representam mudanças da forma de pensar do público têm de ser tratadas com cautela. A década que produziu A Mulher do Campo, de Wycherley, também nos legou The Pilgrim's Progress, de Bunyan. As décadas que assistiram ao kitchen-sink drama (drama de lava-louças) seguido de sexo-e-violência-para-chocar-o-público viram também o público leitor apanhado sucessivamente pelos inocentes hobbits de Tolkien e os coelhinhos virtuosos de Richard Adams. Mesmo assim, a “Revolução do Teatro” implicou uma vaga de inovação cujos efeitos ainda têm espaço para crescer.
1 - Aldermaston é o local onde se situam as fábricas de armamento inglesas onde se fabricam as armas atómicas e nucleares, entre outras. É o único local do Reino Unido onde este armamento se fabrica. O nome da terra tornou-se, a partir do final dos anos 50, sinónimo de armas nucleares e Campanha pelo Fim das Armas Nucleares. Aí se desenrolaram muitos protestos, incluindo uma marcha anual que, a partir de 1958, aconteceu por volta do período da Páscoa. Apesar de já não serem tão regulares, os protestos à porta da fábrica mantêm-se ainda hoje.