quinta-feira, 22 de março de 2007

Arnold Wesker – um escritor que se preocupa desesperadamente...

Arnold Wesker começou por ter grandes dúvidas acerca do colóquio “Europa 2000”, no teatro de Esch, entre 26 e 29 de Setembro de 1991, para o qual estávamos a tentar convidá-lo.

O que, perguntava, poderia conseguir-se de útil em apenas três dias?
Mas acabou por vir, por amizade, e muito rapidamente começou a preocupar-se em alcançar qualquer resultado. Acabou por fazer uma das mais importantes contribuições do colóquio. O seu epílogo à Declaração de Esch é já familiar aos leitores.

...mas primeiro, uma introdução.

Arnold Wesker, nascido no East End, em Londres em 1932, é sem dúvida o dramaturgo britânico mais importante da sua geração. A Trilogia Wesker teve um impacto imenso no teatro britânico quando produzida como entidade única no prestigiado teatro de vanguarda Royal Court, em Londres, em 1960.

Em Março de 1968, o público do teatro de Esch ficou assombrado com a produção de A Cozinha de Ariane Mnouchkine, um empolgante confronto entre um conteúdo realista e uma forma estilizada.
Wesker combina um idealismo social enérgico – fundou o Centro 42 para servir de veículo de expressão social e cultural, e dirigiu-o entre 1961 e 1970 – com a perspectiva do estranho. O seu trabalho reflecte uma crença e compromisso com os valores humanos, tanto a nível individual como social.
“Preocupar-se” é uma noção-chave em Wesker... como demonstra a explosão apaixonada de Sarah no final de Canja de Galinha com Cevada: “Tu morres, tu morres... se não te preocupas, morres!”

A ideia de preocupação exprime a dupla definição da tarefa humana para Wesker: preocupar-se com o outro nas relações pessoais e preocupar-se com a sociedade como um todo. Cada vez mais a última significa estar vigilante, cuidando para que os nossos destinos políticos estejam protegidos dos “oportunistas” que explorariam qualquer fraqueza para tomarem o poder.
Wesker acredita apaixonadamente na necessidade de educação, tanto como veículo de melhoramento pessoal e social, como forma de afastar os piores desastres que caíram sobre as minorias ao longo da História e que radicam na ignorância, no preconceito e no medo.
As suas Peças para Uma Mulher – a sua própria interpretação de Annie Wobbler valeu-lhe uma ovação de pé em Esch, no dia 14 de Novembro de 1989 – coloca-o na primeira fila dos escritores “feministas”. É de uma sensibilidade rara, combinando a intuição pessoal com um omnipresente sentido de justiça social. Wesker nunca sacrifica a complexidade da personagem individual a uma “mensagem” social, mas, no entanto, está sempre consciente das relações sociais que também definem o indivíduo.
O seu trabalho sobre O Mercador de Veneza de Shakespeare, agora significativamente intitulado Shylock, substitui a responsabilidade do indivíduo, que é livre de escolher o sacrifício pessoal como forma de fazer cumprir a Lei, assumindo assim o carácter heróico que o Bardo lhe negou. Há quem pense que a peça de Wesker é a melhor das duas.
Wesker é provavelmente mais apreciado no resto da Europa, onde as suas peças são frequentemente encenadas e muito aplaudidas, do que em Inglaterra, onde foi marginalizado com sucesso por autores que abraçaram causas mais populares do que, por exemplo, a educação, e métodos dramáticos mais espampanantes do que peças infinitamente representáveis e bem carpinteiradas.
Se isto for verdade, é um triste indício do estado da opinião teatral e literária inglesa.
Será tempo de fazer uma reavaliação?

Ariel Wagner-Parker, Phare, Nouvelle série nº 26 – 8.11.1991
http://www.guywagner.net/wesker-e.htm
10/1/2007

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