quarta-feira, 28 de março de 2007

Quanto Ouso - Capítulo Dez

A Liga das Crianças de Escola

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Aos dezasseis anos [1948] fui aprendiz de marceneiro em Norton Folgate, Londres E1, dispondo de uma facilidade de organização aprendida no Habonim. [1]
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Preso por Homicídio

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Durante algum tempo, tomei conta de uma desmazelada banca que ele [Robert, o director de uma escola em que Wesker andou] alugara no Mercado de Bermondsey, onde vendia trastes de ferro-velho e travou amizade com Tommy Steele, antes de ele se tornar Tommy Steele. Não soube nada desta relação até alguns anos mais tarde, ocupado que estava a vender ninharias naquela abjecta e patética carreta de madeira com uns poucos objectos abandonados que Robert adquirira em leilões de salvados: armadilhas ferrugentas, bocados de canos, chávenas de plástico, caixas de parafusos, os detritos de pequenas aventuras de negócios falidas e vidas falhadas. Não me lembro de alguma vez ter vendido o suficiente num dia para pagar o meu salário.
Felizmente, os meus tempos de vendedor no mercado foram curtos. Semanas, acho. Depois, Robert dedicou-se aos livros. Alugou uma cave em Holland Place, à saída de Kensington Church Street e gradualmente encheu-a de livros em segunda mão que poucos pareciam querer – havia uma tabuleta do lado de fora que não parecia convencer ninguém. Passei mais tempo a arrumá-los e ordená-los do que a vendê-los. Não que me importasse. Até mesmo agora, que vivo no maior centro mundial de venda de livros em segunda mão, dou comigo nas lojas de Hay a dar satisfação a essa necessidade de arrumar os livros que clientes descuidados deixaram fora do seu lugar.
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Uvas em Long Acre

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Por volta desta altura, estamos em 1949, dois empregos ocasionais. Um, na cidade, um armazém onde os fabricantes de casacos e blusões de cabedal vinham comprar as peles. A minha função, com outros, consistia em empurrar carrinhos cheios de peles que os compradores escolhiam num catálogo, fazer escorregar as peles de cima do carrinho, bater com elas num banco de madeira e virá-las para serem inspeccionadas, uma a uma. Tínhamos um salário-base mas o grosso dos ganhos, que eram substanciais, provinha das gorjetas – um trabalho em períodos curtos, que aparecia de vez em quando, e que pode ter dado uma ajuda na viagem para Paris. O outro trabalho, também de substituição, causou grande impressão em mim. Um escritório em Long Acre – nesses tempos, parte do florescente e barulhento mercado de fruta de Covent Garden – onde manuseava um telefone e apontava as encomendas dos grossistas de fruta – uma revelação quanto à loucura deste mundo louco. O meu patrão não fazia mais nada a não ser comprar um carregamento de fruta num telefone e vendê-lo aos caixotes noutro. Nessa altura comemos muitas uvas em Weald Square [casa da família de Wesker]. Terão sido um presente? Comprava-as ao preço de custo? Fariam parte do meu salário? Acho que era grego. Ou do Chipre. Guardei-o num canto durante vinte e sete anos.

(Pp. 199 – 214)

[1] Organização criada em Inglaterra em 1932, que tinha por iobjectivo treinar os jovens judeus para o regresso a Israel, onde trabalhariam em kibbutzin e contribuiriam para a construção do Estado de Israel. Wesker juntou-se-lhes em 1945 e manteve-se com eles durante 3 ou 4 anos, até sair da escola.

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