quinta-feira, 8 de março de 2007

Panorama da Pós-Modernidade...


"Os anos 50 e 60"
1. Introdução

Foi só dez anos após o fim da guerra que ocorreram as transformações mais significativas dos mores sociais e modas exteriores, que iriam conferir ao mundo do pós-guerra um conjunto de atitudes completamente diferentes das dos anos 30. Sob a sombra da bomba de hidrogénio, a Campanha pelo Desarmamento Nuclear foi lançada em 1958 e organizou-se a primeira marcha de protesto para Aldermaston. (1) O esmagamento de uma revolta húngara por tanques russos em 1956 tinha aumentado o receio quanto às intenções soviéticas, ao passo que a invasão anglo-francesa do Egipto no mesmo ano, provocou a chamada “crise do Suez”, um profundo cisma nacional entre os que, como Sir Anthony Eden, o Primeiro-Ministro, acreditavam na vantagem de colocar no poder ditadores como o presidente Nasser no Egipto, e aqueles que pensavam que uma acção inglesa deste tipo era um retorno aos velhos dias do imperialismo britânico. Temas políticos deste género fizeram nascer uma persistente sensação de que existiam ainda no espírito britânico muitos preconceitos amargos a resolver. Um deles, no campo moral, foi atiçado pela controvérsia que envolveu a publicação, em 1957, do Relatório Wolfenden sobre os Crimes Homossexuais que preparou o caminho para a legalização das práticas homossexuais entre adultos responsáveis, e o falhanço na perseguição movida aos editores do romance O Amante de Lady Chatterley, de Lawrence, ao abrigo da Lei da Obscenidade de 1960. Entretanto, a criação de novas universidades e a transformação do Reino Unido numa sociedade multirracial devido à crescente vaga de imigração proveniente dos países da colorida Commonwealth foram, talvez, também factores para o abalar de fundações que devolveu o poder ao Partido Trabalhista, dirigido por Harold Wilson, em 1964, após treze anos de ininterrupta governação Conservadora.
A literatura espelhou este abalo de fundações, com especial violência, no drama. Vários novos dramaturgos viram as suas peças de estreia representadas na segunda metade dos anos 50, e se bem que este autores, em que se incluem Beckett, Osborne, Whiting, Arden, Behan e Pinter, fossem bastante diferentes entre si, quer no conteúdo das suas peças quer nas técnicas que utilizavam, todos se combinaram para quebrar com o drama da comédia da classe mais alta e a fantasia romântica tão completamente quanto Eliot e Fry o tinham feito antes deles – mas de uma forma completamente diferente. O teatro dos anos 50 e 60 explorou ao máximo a reacção artística contra o palco à italiana, o fim da censura teatral, o culto, muito na moda, da comunicação bi-direccional entre actor e público participante, a exigência de que a arte se comprometesse claramente com causas políticas e sociais e o fim das inibições da inocência sexual. Seria fácil exagerar o amplo significado social do que se passa em cima de um palco, que facilmente se dispõe a ser uma estufa para a auto-expressão neurótica e, por isso, as pretensões teatrais de que representam mudanças da forma de pensar do público têm de ser tratadas com cautela. A década que produziu A Mulher do Campo, de Wycherley, também nos legou The Pilgrim's Progress, de Bunyan. As décadas que assistiram ao kitchen-sink drama (drama de lava-louças) seguido de sexo-e-violência-para-chocar-o-público viram também o público leitor apanhado sucessivamente pelos inocentes hobbits de Tolkien e os coelhinhos virtuosos de Richard Adams. Mesmo assim, a “Revolução do Teatro” implicou uma vaga de inovação cujos efeitos ainda têm espaço para crescer.


1 - Aldermaston é o local onde se situam as fábricas de armamento inglesas onde se fabricam as armas atómicas e nucleares, entre outras. É o único local do Reino Unido onde este armamento se fabrica. O nome da terra tornou-se, a partir do final dos anos 50, sinónimo de armas nucleares e Campanha pelo Fim das Armas Nucleares. Aí se desenrolaram muitos protestos, incluindo uma marcha anual que, a partir de 1958, aconteceu por volta do período da Páscoa. Apesar de já não serem tão regulares, os protestos à porta da fábrica mantêm-se ainda hoje.

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